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Leda Flora, uma repórter muda a visão da autoridade

José Escarlate

A repórter Leda Flora – hoje orgulhosa vovó – foi a grande dama da imprensa palaciana, sendo eleita também musa do Congresso Nacional. Com excelente texto, era mordaz nas análises. Por conta de sua beleza, um dos seus muitos admiradores era o então ministro da Justiça, Armando Falcão, o homem do “nada a declarar”.

Muitas vezes, quando Falcão não queria falar conosco, no final do despacho com Geisel, colocávamos a Leda Flora à frente, na saída do gabinete do presidente, para atrair o ministro. E ele, todo meloso, se rendia à musa.

Em verdade, Leda foi mito em Brasília. Sempre se valorizou como profissional e como mulher. As repórteres eram proibidas de usar calças compridas para circular pelos corredores do Congresso, gabinetes e plenários. No Palácio do Planalto e no avião presidencial, a mesma ladainha.

Certa vez, uma senhora, que viajaria no avião do presidente, chegou à Base Aérea trajando um terninho de griffe, sendo barrada. Foi ao toalete, tirou as calças compridas, eram pantalonas, deixando expostas belas e cobiçadas pernas, bem torneadas. Foi liberada e devidamente apreciada. A nossa Leda Flora, indignada com isso, foi pioneira nas críticas à proibição.

Um dia reclamou tanto que foi levada ao gabinete do então presidente do Senado, Luiz Vianna Filho que, ao vê-la entrar com um vestido prá lá de desajeitado, riu muito do traje. Sem papas na língua, Leda detonou: “Não tenho dinheiro para comprar coisa melhor, senador” – disse ela. “Este, foi presente de um amigo”.

O fato é que, no dia seguinte, a norma foi extinta, tanto na Câmara quanto no Senado. Era o fim das muralhas do preconceito. As calças compridas, hoje, são uniformes para a mulheres que trabalham no Executivo, Legislativo e Judiciário. Mesmo senadoras e deputadas.

No Planalto a norma acabou com o advento da Nova República. Tudo isso, graças à bela e vistosa Leda Flora.

Veiga de Lemos sempre dizia que alguns políticos, quando viam repórter mulher ficavam assanhados, faziam gracinha, sempre com sexo na cabeça.

A repórter, que não levava desaforo para casa salientava: “Nunca trabalhei com os peitos, coxas e nádegas, mas com inteligência e capacidade”.

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