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Lei do retorno prova de novo que quem planta jiló, colhe pepino

Brasília (DF) 18/05/2023 Senador, Sérgio Moro, na CCJ do Senado. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.

Nas voltas que o mundo dá, se encontrar é privilégio de poucos. Assim também é a vida, que, para alguns, não gira, mas capota. Ela tem tantas e inexplicáveis voltas que um dia acaba por levar pessoas ao encontro de outras que são muito especiais e que jamais imaginaram um reencontro ou um cara a cara indesejável e futurista. É o caso do ex-juiz e agora senador próximo da degola Sérgio Moro (União Brasil-PR) e do ex-advogado e hoje ministro Cristiano Zanin, o mais novo integrante do Supremo Tribunal Federal, a mais alta Corte do Judiciário brasileiro. Por obra do destino, Zanin ocupa a cadeira dos sonhos dourados de Moro.

Poderia dizer que a história foi implacável e fez justiça de forma muito mais célere do que imaginavam os pais de santo mais otimistas. Não é apenas história, tampouco obra do acaso jurídico. É a lei natural da vida na Terra, onde se colhe exatamente o que se plantou. Ninguém colhe quiabo em plantação de bananas. Respectivamente herói e vilão na longa, sacana e patética batalha dirigida da Lava Jato, Sérgio Moro e Cristiano Zanin estiveram em lados opostos até na simpatia do eleitorado nacional.

Alçado à condição de queridinho do povo por conta da imprensa que, à época, batia continência para um tresloucado “mito”, Moro vivia nas nuvens, enquanto Zanin tentava livrar Luiz Inácio do lodaçal que, após vir à tona a enxurrada de malfeitos na 13ª Vara Federal de Curitiba, o Brasil descobriu tratar-se de uma poça d’água benzida pelos querubins. De juiz a ministro e de ministro enxotado a senador, Sérgio Moro era o exemplo do homem que todo pai queria para genro. Acima do bem e do mal, chegou a ser considerado por alguns abestados como a solução para o fim da corrupção no país.

A descoberta de suas supostas sentenças combinadas com o Ministério Público de Deltan Dallagnol para condenar desafetos políticos, mostrou a verdadeira face do ex-juiz, que, dizem as boas e más línguas, atualmente só dorme à base de Rivotril. Considerando que o Brasil está se reencontrando com sua natureza democrática, não há razão para se defender um clima de desforra. Pelo contrário. Que ele tenha o mesmo fim de quem o criou. Resumindo, quem pariu Moro que o embale. Vale lembrar que Zanin não conseguiu evitar a prisão de Lula. No entanto, no fim e ao cabo, saiu vitorioso porque o STF considerou que Moro não foi imparcial nos casos julgados, o que levou à anulação das condenações de Luiz Inácio.

Depois das batalhas de Curitiba, os dois estiveram frente a frente durante a sabatina do Senado, onde Zanin defendeu a si mesmo. O antagonismo histórico ressuscitou uma série de embates irônicos. A diferença era a posição. Dessa vez, o advogado que defendeu Lula assumia a condição de protagonista. Aliás, ele também estará em posição de superioridade quando o processo de cassação do senador passar pelo Tribunal Superior Eleitoral e chegar ao Supremo Tribunal. É a tal história da colheita impensada.

Acusado de abuso do poder econômico durante a campanha eleitoral de 2022, o ex-juiz sabe que enfrenta um ambiente bastante desfavorável na horta de folhas amargas e sem viço da Corte Eleitoral, onde deverá colher pepinos como contrapartida aos jilós espalhados em Curitiba. Esperando para coletar os louros que fincou na capital paranaense, Cristiano Zanin certamente vislumbra as luzes do plenário do STF e reflete sobre o ontem, o hoje e o amanhã. Ao vestir a toga, provavelmente ele pensa: Ontem você era tudo, hoje tanto faz e amanhã será quase nada. É a lei do retorno. O mundo dá voltas e em uma dessas você cai.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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