A Câmara Legislativa acaba de comemorar o aniversário de 30 anos da promulgação da Lei Orgânica do Distrito Federal. Além dos ex-governadores eleitos desde então, convidou para a sessão solene os deputados distritais responsáveis por sua elaboração. Nada mais justo que homenageá-los, reconhecendo o mérito daquela iniciativa. Mas o presidente da Casa, deputado Wellington Luiz, cometeu dois importantes deslizes.
Os deputados das primeiras legislaturas, inclusive os que subscreveram a Lei Orgânica e foram, com justiça, agora homenageados, tinham clareza do que representou o trabalho dos servidores que lhes assessoraram naquele trabalho. Tanto que chegaram a distingui-los com um título de reconhecimento. Tenho certeza que os demais servidores de então os guardam com o mesmo carinho que eu, que tive o privilégio de participar daqueles primeiros anos de Câmara Legislativa, como assessor e, depois, como Diretor Legislativo.
Aquele foi também um justo reconhecimento. De um lado, pela qualidade do assessoramento, inclusive na própria elaboração da Lei Orgânica. De outro, pelas condições em que tivemos de trabalhar, a Câmara ainda desprovida sequer de móveis e equipamentos nos primeiros meses. Muitos de nós tivemos que levar nossas próprias máquinas de datilografia e utilizá-las sobre os balcões das janelas.
Mas o principal equívoco foi o presidente da Casa declarar, na sua fala, que “a história democrática desta capital começou com essas pessoas que hoje estão aqui.”
Não é verdade. Muitos anos antes, a luta pela representação e pela autonomia política encantou e mobilizou amplos segmentos da população do Distrito Federal. Há que se destacar o papel da Associação Comercial, sob a liderança de seu memorável presidente Lindberg Cury, reivindicando a representação dos brasilienses na Câmara dos Deputados e no Senado.
Mas também militantes e mesmo populares anônimos de todo o Distrito Federal levaram essa luta para as ruas, exigindo a autonomia política, com a eleição de deputados distritais, governador e até mesmo prefeitos e vereadores para as cidades que já então existiam.
Não foram poucas as vezes que essa luta exigiu o enfrentamento com a repressão policial. Numa dessas ocasiões, um ato diante da Associação Comercial foi dissolvido pela polícia, diante do testemunho das principais liderancas nacionais de partidos que se opunham ao governo militar: Ulysses Guimarães (MDB), Tancredo Neves (PP), Leonel Brizola (PDT) é Lula (PT).
Pessoalmente, por minha participação nessas lutas, cheguei a merecer a concessão do título de Cidadão Honorário do Distrito Federal, numa iniciativa da deputada Eliana Pedrosa.
Não foi uma luta em vão. Conquistamos inicialmente a representação na Assembleia Constituinte, com deputados federais e senadores. E, a partir daí, o direito a eleger deputados para uma Câmara Legislativa e o nosso governador.
Muitas são as críticas e decepções com grande parte dos eleitos em todos esses anos. Mas há que se reconhecer que muitas foram as conquistas. E o momento é significativo para demonstrá-lo. Caso não tivéssemos os nossos próprios representantes, não teríamos sequer conquistado um Fundo Constitucional, quanto mais o êxito de agora, impedindo que tivesse sido extinto.