José Escarlate
Walter Pires, do Exército, Maximiano da Fonseca, da Marinha, Danilo Venturini, do Gabinete Militar e Octávio Medeiros, do SNI eram contra Aureliano ocupar interinamente o palácio do Planalto. A favor da posse do vice apenas o brigadeiro Délio Jardim de Mattos, da Aeronáutica, e Mário Andreazza, do Interior.
Inferiorizados, os dois deixaram a suíte e desceram ao lobby do hotel, quando chegava o Leitão de Abreu Colocado a par da decisão inicial, Leitão subiu e deu uma aula de Direito Constitucional, mudando a opinião de Maximiano, deixando Walter Pires e Medeiros em dúvida, o que depois foi dirimido. Com isso, virou o quadro.
Medeiros levantou-ser e disse para Aureliano: “O senhor vai assumir a presidência da República”. Aí ele respondeu: “Eu ia para Três Pontas, mas não vou mais. Vou assumir amanhã mesmo”. Medeiros: “O senhor não deve assumir amanhã porque há um problema: nós temos de ter um documento oficial, um laudo médico. Se eu fosse o senhor, pegava o seu avião e ia para Três Pontas. Sexta ou sábado o laudo deve estar pronto. Vamos deixar para segunda-feira”.
E assim aconteceu. Dia 23 de setembro de 1981 o vice-presidente Aureliano Chaves assumia a presidência da República. No dia seguinte eu fui deslocado para Cleveland, para acompanhar os exames iniciais que seriam feitos pelos cirurgiões cárdio vasculares da Clinic Cleveland, em Ohio, nos Estados Unidos.
Cinco dias depois, o presidente Figueiredo embarcava num DC-10 da Varig, adaptado com recursos especiais rumo a Cleveland, para submeter-se a uma cineangiocoronariografia – hoje é cateterismo, por utilizar um cateter – e posterior intervenção cirúrgica, o que depois foi julgado desnecessário no momento, pelos médicos americanos.
Medeiros, muito falante, ainda desabafou: “O João e o Aureliano tinham problemas. É verdade. Mas de ordem política. Para a imprensa eu entrei como arquiteto de um golpe contra o Aureliano”.