José Escarlate
Quem me lembrou a historinha foi o repórter Irineu Tamanini, da nossa Empresa Brasileira de Notícias. Primeiro Chefe de Estado brasileiro a visitar a África, em 1983, João Figueiredo passou por cinco países – Nigéria, Senegal, Argélia, Cabo Verde e Guiné Bissau, onde o governante brasileiro foi recepcionado pelo presidente, João Bernardo Vieira.
Jornalistas da comitiva, convidados como sempre. Tudo transcorria tranquilo. Garçons servindo salgadinhos e bebidas. O uísque rolava solto e a comitiva, imprensa, autoridades e convidados africanas circulavam pelo salão.
Figueiredo, descontraído, conversava com o presidente africano falando da miscigenação de seu povo. Nisso passa por eles o repórter-cinematográfico da OBN – Cine Tv Produções – Euler Teixeira, cinegrafista negro, da comitiva brasileira. Figueiredo chama Euler e o apresenta a João Bernardo Vieira.
Euler que já tinha mamado uns cinco uísques, se sentiu a última Coca-Cola do deserto. Já cheio de cana e de intimidades, ele colocou uma das mãos no ombro de Figueiredo e deu até um tapinha nas costas do presidente da Guiné Bissau. Foi quando Figueiredo, não se contendo, caiu na gargalhada.
Quem salvou a situação foi o chanceler Saraiva Guerreiro, que se aproximou para, diplomaticamente, tirar Euler dali. E quem disse que ele queria sair? Euler se agarrou no braço de Figueiredo, sentindo-se o dono da festa.
No voo comercial, de volta para o Brasil, o repórter Nogueira Saraiva, cobrou de Hélder o comportamento dele naquela noite. O negão, que já tinha tomado a bordo outros tantos uísques, não gostou e enfrentou o chefe, reclamando: “Não admito que me cobrem postura quando eu apenas interlocutava com amigos”. E mais não disse.