Amantes sem dentes
Lençóis de Mafalda recebem amigo do marido
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emAs pessoas gargalhavam tão desvairadamente, que dava para ver os sisos ou a ausência deles. Isto, para Mafalda, era a prova irrefutável de que nem todo mundo tem juízo. Seja como for, ela continuou arrancando risadas despudoradas da pequena plateia ao seu redor, enquanto o marido, Alves, ficava perto da churrasqueira para não deixar a carne passar do ponto.
Entre os convidados estava Gerson, amigo de longa data do seu amado esposo. Sim, ninguém jamais poderia acusá-la de não amar o tranquilo Alves, sempre solícito para todos os desejos da esposa. Aliás, os dois se davam tão bem, que bastava um olhar para saber o que o outro estava pensando. E como se desejavam, como se amavam, não importava o local. Às vezes até ali mesmo naquele amplo quintal, encostados na churrasqueira, que nem precisava estar acesa, tamanha a quentura daqueles corpos.
Mas voltemos ao Gerson. Pois é, o Gerson! Basta uma simples descrição daquele homem para afastar qualquer suspeita de que alguém lhe desejasse. Baixinho, não passava de 1,60. Careca, desses que deixam um arco de parcos cabelos ao redor da cabeça. Barrigudo, do tipo que sofre tanto com os botões das calças, que, não tarda, prefere se render ao ridículo dos suspensórios.
Pois bem, o gajo, apesar da flagrante falta de atrativos físicos, vez ou outra aparecia com uma mulher de saltar os olhos de quem tivesse a sorte de vê-la passar. Ah, e antes que alguém fale que, na certa, era por conta dos milhões da polpuda conta bancária do Gerson, isso não procede. Ele, que não era um miserável, estava bem longe de poder deixar o boi na sombra.
Vale aqui lembrar que a Mafalda, no auge dos seus 38, tinha plena ciência dos seus atributos. Quase alta, caso não fosse por aqueles míseros centímetros que a impediam de ultrapassar o 1,70, mas nada que um bom salto não pudesse resolver. Quanto ao Alves, este era um tipão. Alto, corpo quase em forma, apesar dos 50, não tão bonito de rosto, mas não teria dificuldade de atrair supostas pretendentes. Possuía lá seus atrativos.
Aconteceu o improvável. Foi pouco antes desse churrasco, enquanto o Alves teve que fazer uma viagem a trabalho. Não demorou tanto assim, mas foi mais que suficiente para que Mafalda e Gerson se entregassem a algo mais forte do que eles. Amaram-se como namorados de poucos dias, cheios de faíscas e desejos irracionais.
Mafalda, satisfeita pela noite de amor, levantou e foi até o enorme espelho do quarto. Ela sorriu aquele sorriso de satisfação, mas não de satisfeita. Ela queria mais, muito mais. Enquanto observava o corpo completamente nu do amante através do espelho, não sentiu qualquer remorso. Gerson também não demonstrava arrependimento pelo delito. Não era culpa deles terem nascido sem os sisos.