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Em Trânsito

Lenine trilha novos caminhos em projeto que evita o repeteco

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Autor/Imagem:
Adriana Del Ré

No ano passado, quando a turnê de seu disco Carbono se aproximava do fim, Lenine começou a pensar no próximo trabalho. E, nesse momento, lhe incomodava a ideia da repetição. Ele não queria mais uma vez entrar em estúdio – onde se dedicaria a um disco por meses – e depois seguir a fórmula: lançar álbum, iniciar turnê e registrar o show em DVD. Então, junto com o filho Bruno Giorgi, seu diretor musical, Lenine decidiu inverter a ordem das coisas.

Assim nasceu Em Trânsito. Começou como show, no Rio – com canções inéditas e outras mais antigas que se ligassem a elas -, que foi gravado ao vivo e, agora, lançado em disco e nas plataformas digitais. Em agosto, vai ganhar versões LP e também DVD. O cantor e compositor estreia o novo projeto em show em São Paulo, no Tom Brasil, nesta sexta, 25.

Lenine fala sobre aquela sua inquietude. “Eu estava num momento muito delicado, assim como todo brasileiro, como todo habitante do mundo que está antenado com as coisas que estão acontecendo. Não é uma coisa isolada, é generalizada, está em todos os cantos”, afirma ele, ao Estado. “Mas, na verdade, eu estava com uma questão estética e filosófica dentro de mim. Era um somatório de coisas, assim, era natural que, no ano passado, eu estivesse sem estímulo nenhum para ficar seis meses num estúdio ”

Lenine montou o repertório de Em Trânsito como se se dedicasse a um roteiro. Por isso, os temas vieram antes de tudo. Com os assuntos já selecionados, o músico contou com a confiança dos parceiros mais próximos para que compusessem com ele, digamos, às cegas. Entre eles, Lula Queiroga, Ivan Santos e o filho João Cavalcanti. “Esse projeto sendo assim, fulminante, eu só podia contar com meus parceiros mais íntimos. Eles nem viram as canções antes, porque eu não tinha tempo hábil para discutir”, conta. “Chamei cada um para ser parceiro comigo de um trecho dessa narrativa, ou de um capítulo desse romance. Então, ninguém tinha a visão geral do romance, só eu mesmo.”

Para cada produto que Em Trânsito deu origem, construiu-se uma narrativa diferente, diz Lenine. O repertório do show, naturalmente maior, segue um caminho. Esse mesmo repertório abastece CD e LP, mas, de formas diferentes, levando-se em conta que o CD abriga um número limitado de canções e o LP vem com os lados A e B.

Assim como o show, o CD, já disponível, começa propositalmente com Leve e Suave, que vem na toada que o próprio título da canção prenuncia. Para logo em seguida, vir o ‘susto’ com o ótimo rock Sublinhe e Revele, em que ele avisa: ‘O tom é grave e o tempo é breve’. Sobre essa sequência, ele conceitua: “Com Leve e Suave, eu queria dar essa falsa impressão no início do show, entrar só com o instrumento, tocar ali com toda a leveza, e, no meio daquilo, uma ruptura”. Sublinhe e Revele estabelece um diálogo com Virou Areia, antiga parceria com Bráulio Tavares, a terceira do disco. A intensa Intolerância é um reflexo do hoje. “Na verdade, a intolerância talvez seja dos sentimentos humanos que mais estão com ibope, essa coisa com a rede, os avatares, todo mundo é o que não é, e aí você exercita um tipo de tirania ” Vem então um breve suspiro em Lua Candeia, de uma delicadeza tocante com o piano de Amaro Freitas. Mais adiante, a contundente Umbigo exalta ironicamente o egocentrismo.

Com conceito, mais livre de regras, Em Trânsito possibilitou a Lenine colocar em prática alguns antigos desejos. Como fazer um trabalho coletivamente com os músicos que o acompanham. “Esse grupo está comigo há muitos anos. Então, no momento em que eu descobri que isso poderia ser também uma coisa muito boa, botar o foco nisso, nessa rapaziada, foi maravilhoso.” E, nesse processo coletivo, Lenine deixou de lado seu violão. “As músicas inéditas, eu mostrei sem meu instrumento. Está tão associado o que faço ao violão que, quando mostro uma canção que eu fiz ali, tem mais coisa do que meramente um violão: estão ali um pouco da bateria, do baixo. E toda vez induzo as pessoas a procurarem um caminho com aquele violão que eu toco. Então, foi outra possibilidade legal a de exercitar só o intérprete, a melodia e as palavras. Nas canções novas, eu só pus o violão depois, para não dar uma direção, para a gente procurar junto esse caminho sonoro que Em Trânsito poderia nos dar.”

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