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Maria Fumaça

Levando também Maria Filó, o trem transporta gente que dá dó

Publicado

Autor/Imagem:
Gilberto Motta - Texto e imagem

“Atenção senhores passageiros! O trem da vida parou na estação. Completou mais um ciclo e uma nova vigem já vai começar.”

Nossa vida é como uma viagem de trem.

Cheia de embarques e desembarques e pequenos acidentes pelo caminho; descarrilamentos, reconstruções, surpresas agradáveis e algumas decepções. Nascemos e embarcamos nesse trem.

Logo na chegada, encontramos duas pessoas que – acreditamos-, farão conosco a viagem até o fim: nossos pais. Ilusão. Infelizmente, em alguma estação eles desembarcam, deixando-nos órfãos de seus carinhos, proteção, amor e afeto.

Faz parte da nossa viagem.

Muitas pessoas tomam esse trem a passeio.

Outros fazem a viagem como uma grande jornada de experiência.

Dividem sabores, cheiros, olhares, sentimentos e emoções intensas a cada segundo. E no trem há, também, pessoas que passam de vagão em vagão, prontas para dar e receber o que precisam.

De fato, muitos ao descerem, deixam amizades sinceras e levam saudades eternas.

Outros tantos viajam no trem de tal forma que, quando desocupam seus assentos, ninguém sequer percebe.

Curioso é considerar que alguns passageiros que nos são tão caros, acomodam-se em vagões diferentes do nosso. Isso nos obriga a fazer essa viagem separados deles. Mas claro que isso não nos impede de, com grande dificuldade, atravessarmos nosso vagão e chegarmos até eles.

O difícil é aceitarmos que não podemos nos assentar ao seu lado, pois outra pessoa estará ocupando esse lugar. Encontros e desencontros, uma das regras imutáveis do trem.

Essa viagem é assim: cheia de atropelos, sonhos, fantasias, esperas, embarques e desembarques. Sabemos que esse trem jamais volta.

Façamos, então, essa viagem, da melhor maneira possível; tentando manter um bom relacionamento com todos os passageiros, procurando em cada um deles o que tem de melhor, lembrando sempre que, em algum momento do trajeto, poderão fraquejar e, provavelmente, precisaremos entender isso.

Nós também fraquejamos algumas vezes. E, certamente, alguém nos entenderá. O grande mistério, afinal, é que não sabemos em qual parada/estação desceremos.

E fico pensando: quando eu descer desse trem sentirei saudades? Sim.

Deixar minhas filhas viajando nele sozinho será doloroso. Separar-me de alguns amigos que nele fiz, dos amores de minha vida, será para mim de difícil aceitação. Mas me agarro na esperança de que, em algum momento, estarei na estação principal, e terei a emoção de vê-los chegar com suas bagagens e suas roupas iluminadas pela esperança da viagem.

Já nossos filhos e filhas, netos e netas…

Quem sabe, serei feliz em saber que, de alguma forma, posso ter colaborado para que eles tenham crescido e se tornado pessoas, gentes, seres preciosos.

O trem está diminuindo a velocidade.

Uma nova estação se aproxima para outros embarques e desembarques.

Minha expectativa aumenta à medida que o trem vai diminuindo sua velocidade. Quem entrará? Quem saíra?

Eu gostaria que você pensasse no desembarque do trem, não só como a representação do fim de algo, de alguma relação, de um bem material ou transcendental; mas também como o fechamento de um ciclo, de uma história, de sentidos que construímos ao longo da viagem e que, por alguma razão ou mesmo sem motivo aparente, passou, perdeu a chama de existir e já partiu em busca de novas construções.

Fico feliz em perceber que certas pessoas têm a capacidade e a coragem de enfrentar, reconstruir para recomeçar. Isso é sinal de garra e de luta, é saber viver, é tirar o melhor de si mesmo, de “todos os passageiros” e da grande viagem deste trem.

Agradeço todos os dias por você fazer parte da minha viagem, e, por mais que nossos assentos não estejam a todos os momentos lado a lado, com certeza, o vagão é o mesmo.

O trem não para nunca, dá impressão que é finito, mas não é: as linhas por onde ele corre são paralelas e se encontrarão, um dia, no infinito.

Por fim e ao cabo, somos todos passageiros de circunstância nesta finita vereda sobre dois trilhos em disparada pelo infinito.

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