Na beira da democracia
Liberdade de expressão é como ao redor do buraco…
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emTodos nós, independente de raça, cor, sexo e religião, passamos por crises na vida. Essas crises são pessoais, individuais, coletivas etc. Faz muito tempo, o motivo de uma guerra civil foi uma epidemia de varíola. Hoje, estamos de frente, em combate, com a pandemia de Covid-19 – o vírus fatal que ninguém, nem a ciência – ainda sabe como erradicá-lo, restando, por enquanto, o isolamento e o afastamento social de amigos e parentes.
O isolamento é um exemplo extremo de crise pessoal. Mas só um extremo, no caso da Covid-19, porque coisas ruins acontecem simultaneamente. Muitos de nós experimentam a tragédia individual diretamente, em nossas próprias vidas, ou de forma indireta, por meio das experiências de amigos ou familiares. Mas, não é só isso…
Crises e pressões por mudança atingem indivíduos e grupos em todos os níveis, de uma única pessoa a equipes, negócios, nações e o mundo todo. Esse é o panorama paralelo ao novo coronavírus. Lidar de maneira bem-sucedida com as crises e pressões requer mudança seletiva.
O desafio, para nações e indivíduos em crise, é descobrir quais partes de suas identidades ainda funcionam e não precisam mudar; e quais já não funcionam e precisam se reciclar, (re)inventar-se. Estão em jogo nossas habilidades e valores.
Consequentemente, podemos pensar em uma crise como o momento da verdade, em vez de apenas perceber a linha de eventos que se sucedem. Algumas crises chegam do nada, outras, como a Covid-19, permitem recrutar auxílio, defesas e prevenções. De modo similar, a liberdade de escolha dos indivíduos na solução de uma crise é frequentemente limitada por restrições práticas, como a responsabilidade pelo cuidado com os filhos, parentes e as exigências profissionais.
É claro que crises e mudanças radicais (nacionais e mundiais) também ocorreram no passado e suscitaram questões semelhantes. Muito bem, eis que aqui entra uma exigência para refletir sobre o momento atual da crise que assola o Brasil, externa e internamente: a crise do Covid-19, nos melhores casos, as pessoas conseguem descobrir métodos novos e mais satisfatórios para lidar com a situação, e emergem mais fortes. Nos casos mais tristes, sentem-se sobrecarregadas e retornam aos métodos antigos ou adotam métodos novos, mas piores. Resta-nos agir.
Para qualquer um que esteja resmungando com desânimo, respondo que seria absurdo pensar que os resultados da vida das pessoas ou da história das nações, atacadas pela Covid-19, possam ser proveitosamente reduzidos a algumas palavras-chave: cloroquina, terraplana, fechamento de instituições de poderes constituídos, exaltação mitológica… e descobrir que nem a ciência nem a religião respondem a todas as nossas perguntas. Mas, quem responde?
Transportei-me à época em que assisti a uma palestra de Ariano Suassuna onde ele afirmava que “ao redor do buraco, tudo é beira”. Sendo assim, a resposta trará alegria aos crentes e terror aos infiéis.
Que nossa expressão seja livre e nossa democracia seja eterna.