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D desafio da gestão

‘Liderar não é apenas executar projetos, mas inspirar, mobilizar e construir pontes’

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Autor/Imagem:
João Zisman - Foto Acervo Pessoal

Ao longo do tempo, venho percebendo que, no exercício da gestão pública, a inteligência emocional tem se mostrado uma ferramenta tão essencial quanto qualquer competência técnica. Não basta conhecer números, elaborar planos ou cumprir prazos. A complexidade das relações humanas, as expectativas da sociedade e as pressões diárias exigem algo além: a capacidade de compreender emoções, lidar com desafios de maneira serena e construir pontes de confiança.

Daniel Goleman, ao popularizar o conceito de inteligência emocional, destacou que o sucesso não está apenas na habilidade de tomar decisões racionais, mas na capacidade de reconhecer e gerenciar as próprias emoções e as dos outros. Essa percepção, que parecia restrita ao ambiente corporativo, revelou-se ainda mais fundamental na vida pública. Afinal, políticas não se fazem apenas com boas intenções; elas precisam ser construídas com diálogo, empatia e um olhar atento para as reais necessidades da população.

Outro conceito que tem me chamado atenção é o da licença social, algo que vai muito além da legalidade formal ou do cumprimento de normas. Ian Thomson, especialista em sustentabilidade, certa vez afirmou que “a licença social não é concedida por governos ou reguladores, mas pela comunidade, que precisa enxergar valor, legitimidade e confiança nas ações propostas.” Isso me leva a refletir que, mesmo as melhores propostas, se não forem compreendidas e aceitas pela população, tendem a enfrentar barreiras difíceis de transpor.

Nesse cenário, as redes sociais se tornaram um verdadeiro termômetro da opinião pública e um canal indispensável para o diálogo. Vejo que, mais do que um espaço de divulgação de ações, elas oferecem a oportunidade de ouvir, entender e até corrigir rumos. É nelas que a população expressa suas expectativas, cobra respostas e manifesta seu grau de confiança na gestão. Ignorá-las seria fechar os olhos para uma parte significativa da realidade atual. Por outro lado, quando usadas com sabedoria, tornam-se aliadas na construção dessa licença social, permitindo uma aproximação mais direta e sincera entre governantes e cidadãos.

Acredito que a verdadeira conquista de uma gestão eficiente não está apenas nos resultados concretos, mas na construção de relações de confiança. Quando há coerência entre o discurso e a prática, as políticas públicas passam a ser vistas como uma construção coletiva e não como uma imposição de cima para baixo. E essa confiança, uma vez estabelecida, transforma a forma como a população interage com o poder público, tornando-a mais participativa e colaborativa.

Refletindo sobre esses pontos, percebo que liderar, seja no setor público ou privado, não é apenas sobre executar projetos, mas sobre inspirar, mobilizar e construir pontes. A inteligência emocional ajuda a navegar por águas turbulentas com equilíbrio, enquanto a licença social permite que as mudanças aconteçam de forma legítima e sustentável. No fim das contas, a gestão pública eficaz talvez esteja naquele ponto de encontro entre o coração e a razão, onde as decisões são tomadas com sensibilidade e responsabilidade, sempre com os olhos voltados para o que realmente importa: as pessoas.

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Fonte de referência – Daniel Goleman é psicólogo, escritor e autor do best-seller Inteligência Emocional, publicado originalmente em 1995, que popularizou o conceito no mundo corporativo e educacional. Ian Thomson é professor da Universidade de Birmingham e especialista em sustentabilidade, tendo contribuído amplamente para a compreensão do conceito de licença social.

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