Não sou supersticioso, mas sou casado com a Dona Irene, cuja imaginação a transporta para outros mundos. Tanto é que um simples passeio numa manhã fria em Porto Alegre pode se tornar algo digno dos livros da Agatha Christie, tão adorados pelo jornalista e escritor José Seabra, meu colega aqui no Notibras.
Normalmente, quem sai com a Bebel e a Clarinha, nossas buldogues, sou eu. No entanto, como eu estava em Brasília resolvendo algumas pendências na redação, a minha mulher assumiu a tarefa das caminhadas diárias com as nossas filhas de cara achatada. E lá foram as três enfrentar o frio na capital gaúcha, quando as ruas ainda estavam praticamente vazias.
A Dona Irene, ansiosa para retornar para o nosso apartamento, travava uma conversa com a Bebel e a Clarinha.
— Vamos logo, meninas! Façam o que vieram fazer, pois do jeito que o tempo está hoje, nem alma penada vai colocar a fuça pra fora de casa.
Bebel, a mais teimosa, resolveu parar e, não tardou, se esparramou na calçada. Minha esposa tentou falar para ela se levantar, mas nada da cachorra se mover. Nisso, a Clarinha deu um salto para trás e começou a dar pequenos e quase inaudíveis rosnados.
— Ah, não, Clarinha! Até você? O que foi dessa vez?
A irmã da Bebel não parava de rosnar e, então, a Dona Irene virou levemente o rosto e viu algo que a fez tremer não apenas pelo frio. O medo a tomou por completo. No entanto, antes que ela picasse a mula, fingiu que estava tirando uma selfie e, com isso, fotografou uma bruxa bem ao fundo.
Assim que chegou ao nosso apartamento, a Dona Irene me ligou.
— Edu, você não vai acreditar no que acabei de ver.
— O que foi?
— Vi uma bruxa!
— Bruxa?
— É, uma bruxa!
Ela me mandou a fotografia, onde realmente aparecia uma mulher bem ao fundo. Todavia, falei que aquilo era uma bobagem, que aquela era uma senhora e não uma bruxa. Pra quê?
— Edu, é uma bruxa, sim! Nunca vi essa mulher por aqui. E ela saiu de uma casa que vive fechada.
Sem tempo para imbróglio, ainda mais com a minha amada, tratei de concordar.
— E agora, amorzinho, o que você vai fazer?
— Como assim, Edu?
— O que você vai fazer com essa bruxa?
— Ué, nada! Por que faria alguma coisa com ela?
— Sei lá! Não tem medo?
— Medo? Eu? Edu, nenhuma bruxa gaúcha bate de frente comigo. Ou você já se esqueceu que sou do Piauí, sem contar que tenho vasta vivência do Maranhão?
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