Notibras

Linda, recatada, do lar; Marcela não tem nada a ver com isso

Marina Melz

Em 2011, quando pela primeira vez uma mulher se tornou presidente do Brasil, quem dominou as manchetes foi Marcela Temer. Em 2016, quando essa mesma primeira mulher pode ser impedida de finalizar o seu mandato, novamente ela quem está no centro dos memes, das discussões. Que fique claro: em nenhuma das ocasiões, Marcela provocou essa situação. Ela apenas existe como eu, você e todas as mulheres do mundo.

Quando a revista Veja enaltece como qualidades irrefutáveis que Marcela seja “bela, recatada e do lar”, que goste de saias até o joelho, seja reverente ao marido e apareça pouco, sugere que esse é o modelo que deveríamos seguir. E completa a matéria dizendo que, por tudo isso, “Michel Temer é um homem de sorte”.

Vamos fazer um escândalo porque não estamos mais na década de 1950 e sabemos do nosso direito de sermos o que quisermos. Vamos fazer um escândalo porque homem de sorte é aquele que tem uma mulher (ou um homem, ou um trans, ou dois, ou cinco, não importa!) que é feliz, independentemente do comportamento que quem o acompanha tenha ao lado dele.

Como gosto de ver sempre o copo meio cheio, estou me deliciando com mulheres incríveis postando com a hashtag #belarecatadaedolar imagens de pessoas fortes, incríveis, desbocadas, nuas, loucas. Todas maravilhosas. Todas lindas.

Estou me deliciando com o momento em que a sociedade percebe que Marcela pode ser o que ela quiser, mas que não é preciso ser como ela para trazer sorte pra ninguém. Uma sociedade que entendeu que não é no resguardo ou na ocupação que a verdadeira beleza está. Uma sociedade que não deixa mais passar o machismo em branco, esteja ele nas letras pequenas ou nas grandes manchetes.

Azar da Veja, sorte a nossa.

Sair da versão mobile