O primeiro contato que tive com a figura tão carismática do Tonico Pereira talvez tenha sido com o Zé Carneiro do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Anos depois, me diverti muito vendo as peripécias do Mendonça tentando passar a perna no quase ingênuo Lineu de “A Grande Família”. Não há como negar que o Mendonça passou a ser o novo contraponto do Lineu nesse seriado. O outro, obviamente, era a Nenê, personagem divinamente interpretada (como se fosse possível não o ser) pela enorme Marieta Severo.
Que trio! Esse sim é o ataque dos sonhos, ao contrário daquele outro, que mostrou ser um desastre, talvez pelos egos exacerbados dos atletas que não causaram nada além do que chacotas por parte dos torcedores do Botafogo, do Vasco e do Fluminense.
Mas voltemos ao Tonico Pereira. Querer determinar que ele é simplesmente um ator talvez seja limitar o seu universo de possibilidades. Não que ser ator signifique tolhimento. Pelo contrário, é expansão, como bactérias que se multiplicam aos milhões num piscar de olhos. Tanto é que esse homem transita por campos diversos, inclusive no comércio.
Hoje é dono do Brechó TPM em Botafogo, mas já mexeu com boteco e até peixaria, além de ter lançado um livro sobre filosofia. Sim, filosofia! E, se houvesse mesmo a tal máquina do tempo, não seria de se estranhar que o Tonico fosse tirar um dedinho de prosa com o Sócrates, aquele mesmo da Grécia Antiga. E, com a lábia que possui, é bem provável que o nosso gênio das artes cênicas convencesse o velho filósofo a desistir de beber a tal cicuta.
Outra curiosidade sobre o Tonico é que ele é ferrenho torcedor do Goytacazes. Não há um dia sequer que ele não se sinta cada vez mais certo de que seu time é o maior de todos. Repare que eu disse maior e não melhor. Este, por sinal, pode ser qualquer um Barcelona da vida, que, por um instante ou outro, vence tudo como se fosse algo jamais visto. Mas isso ocorre de tempos em tempos. Já o Goytacazes, no imaginário do Tonico, é o maior porque não precisa ganhar sequer um campeonato estadual para ser objeto de paixão de seus torcedores. E como duvidar?
Aliás, pensando bem, o Tonico não é comerciante, não é filósofo, não é nada além de ator. Vou explicar, antes que alguém venha me agredir com palavras de baixo calão. Seja como for, não me calarão! O Tonico é um ator e ponto final ou, caso prefira, ponto de exclamação ou interrogação, talvez até uma infinidade de reticências. É que esse conterrâneo do mestre Didi, tal qual folha seca, sobe e desce, suave, onde e quando bem desejar, talvez pela simples ânsia de nos surpreender. Quer apostar?