Cópia piorada
Linguagem do ão indica que quem quer poder na mão dança só no salão
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Está nas escrituras que, na mesma proporção em que o bêbado exala emoção e o romântico desperta paixão, o falador espalha tensão, presunção, pretensão e, principalmente, insatisfação. O pior cenário para um parlapatão é defender a ação de um mandatário que hoje, além de vilão sem razão, é sinônimo de aflição mundial. Jair Bolsonaro dizer que, caso volte a governar, sairá do Brics e permitirá uma base militar dos Estados Unidos na tríplice fronteira Brasil, Argentina e Paraguai não é sinal de inspiração ou de comunhão com o povo. Pelo contrário. É pura submissão de alguém sem conexão com a realidade nacional e que aposta na fragmentação do eleitorado.
Como a ordem natural da vida é obrigar quem diz o que quer a ouvir o que não quer, antes da desconsideração com quem ainda governa o Brasil o ex-presidente precisa se livrar da sanção de inelegibilidade, se mostrar apto a ser candidato e, por fim, vencer a eleição. Até lá, a benção de Donald Trump não passa de afeição de um ancião sem educação. Ou seja, a dedicação será em vão. Sem qualquer ilação ou apego aos termos com ão, em se tratando de Bolsonaro, talvez a elucubração precise de mais atenção. Pode não ser de coração, mas é minha opinião.
Enquanto aguarda o provável não do Tribunal Superior Eleitoral, o melhor seria que ele, aliando a reflexão à resignação, pensasse com a razão e procurasse ouvir colaboradores sem devoção sobre a dimensão de sua ambição. Como cidadão comum, não posso fazer objeção alguma à intenção de Bolsonaro de levar à exaustão sua condição de postulante à Presidência da República em 2026. Seria uma aspiração justa e normal, não fosse a suspeição popular a seu nome e a abominação do Judiciário a seus gestos pretéritos. Tudo isso como prevenção, precaução e contribuição à nação.
Tenho a nítida impressão de que é pura alienação alguém que se diz patriota e permanece respirando por aparelhos sugerir a um parceiro de má reputação a intervenção num país que tanto diz amar. De antemão, ficar de cócoras diante de Donald Trump denota a degeneração de um político de vários mandatos, mas com visão atrofiada por conta da vocação para a confusão e para a cisão, consequentemente para a coerção.
Defender vilão ou se imaginar repetindo a ação deletéria de um líder que é a personificação da degradação humana é o mesmo que agir como guardião da porta principal do inferno. Da mesma forma, insistir na polarização é entender que a impugnação de sua candidatura e a cassação de seus direitos políticos até 2030 não passaram de uma aberração da constelação do TSE ou de perseguição a uma pessoa que, por distração, só se dirigia aos magistrados de plantão com palavrões.
O fato é que para Bolsonaro recuperar o poder é uma obsessão. Reitero que uma nova aprovação depende da eleição e, sobretudo, de sua absolvição. Hoje, a ponderação, a convenção, a Constituição e boa parte da população não lhe são favoráveis. A torcida do Vascão da Gama no Estádio Nacional de Brasília antecipou a premonição. Algo como uma contraindicação fora de hora. Portanto, de antemão, tenho a sensação de que virá por aí uma decepção. Numa época em que a informação se propaga de forma instantânea, os melhores remédios para o fanfarrão de ocasião é não sentir comichão, menos aflição, nenhuma ilusão, pouca aspiração e muita resignação. No caso em questão, a sugestão é quase um bordão: Esqueça a dispersão e fale somente com orientação e motivação, sob pena de acabar sozinho no meio do salão.