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Impunidade dos parças

Lira e Pacheco agem como Justo Veríssimo e povo fica ao Deus dará

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Mathuzalém Júnior - Foto Lula Marques/ABr

Mistura mais cavernosa de um lorde russo com capataz do sertão alagoano e um capitão do mato em busca diária de vassalos para votar em suas pautas personalistas e grupais, o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), prima pela coerência do blá-blá-bla a serviço dos seus. De parlamentar provinciano a rei do Congresso Nacional, sua trajetória política sempre foi pautada pela chuva de bênçãos àqueles que lhe prestam vassalagem explícita, recorrente e de retorno milionário nas manobras políticas.

Tudo em nome de sua perpetuação como rei da Câmara ou comandante em chefe de quem ele indicar como substituto, algo como um idiota útil. É claro que a excelência das Alagoas será o macho dominante. O outro terá de se contentar com o cargo honorífico de rainha da Inglaterra. E assim caminha o Parlamento brasileiro, particularmente a Câmara dos Deputados, onde nada se vota em benefício da sociedade. O país claudica, o povo sofre igual charuto em boca de bêbado, mas, chova, faça sol ou inundem o Brasil, pouco se produz para tirar o eleitor da UTI. Se deixar por conta deles, até as praias deixarão de ser nossas.

A fome e o desemprego grassam. Entretanto, Lira e seus comandados só pensam em formalizar propostas que facilitem a vida atual e futura dos apaniguados. Por exemplo, há urgência para se votar em plenário uma lei que proíbe delações premiadas de presos e que criminaliza a divulgação do conteúdo delas. Não estou autorizado a dizer, mas nada impede que eu especule sobre seus maiores beneficiários: o ex-deputado Chiquinho Brazão, acusado de mandar matar Marielle Franco, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, encalacrado até a medula justamente por causa da delação de seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid.

Tudo em nome da impunidade dos parças e da amizade remunerada. Outro escárnio próximo do forno crematório da seriedade é o projeto de lei propondo anistia geral e irrestrita para todos os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023, principalmente o lorde water closet, também chamado vulgarmente de mito. Menos letal, mas também na contramão da modernidade, outra proposição a ser analisada e votada com a máxima urgência trata da equiparação do aborto ao homicídio.

A liberdade das milícias, a legalização das fake news, o descaso com o meio ambiente e a endemia da corrupção envolvendo diretamente homens públicos são temas de somenos importância. No mesmo balaio do que é considerado fora de propósito pelos presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), estão matérias como segurança pública, combate ao crime organizado, grilagem de terras, redução da carga tributária, diminuição dos valores da cesta básica, aumento do salário-mínimo em valores decentes, reajustes salariais para servidores públicos, geração de empregos e o aumento do salário-mínimo.

Para os parlamentares que habitam os pesadelos de qualquer brasileiro sonhador, o descarte do povo não é novidade. Tanto que há quase três décadas o falecido humorista Chico Anysio imortalizou Justo Veríssimo, personagem amoral que é o protótipo do Congresso Nacional de ontem, de hoje e de sempre: “Eu quero que o povo se exploda”. Seria fácil resolver esse imbróglio se cada um dos cerca de 152 milhões de eleitores (eu incluído) fosse sincero na hora de votar. Bastaria lembrar que a Câmara e o Senado viraram propriedade dos senhores feudais, mas o voto é nosso.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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