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Meditar é preciso

Loft propõe refúgio urbano para colocar cabeça em ordem

Publicado

Autor/Imagem:
João Abel

Morar em um loft é uma atitude essencialmente urbana. Surgida em meio à crescente verticalização das cidades norte-americanas durante as décadas de 1960 e 1970, de necessidade se transformou em opção e ganhou numerosos adeptos. Mas foi justamente a ideia de fugir do ‘caos’ das grandes metrópoles que fez do arquiteto Nildo José o vencedor da categoria no Prêmio Casa.

Assinado pelo baiano, o loft ‘Ninho’ teve como ponto de partida a criação de um espaço de refúgio dos problemas exteriores. “O nome sugere a conexão do morador com a casa, como um local de regeneração”, explica o profissional, que chega à sua terceira participação na Casacor este ano.

Com 80 m² de área total, o loft de Nildo se divide em três áreas principais: social, cozinha e íntima. Todas com um elemento em comum: o revestimento de carvalho europeu, aplicado do piso ao forro, incluindo paredes. “Isso trouxe unidade a todo o projeto e reforçou a sensação de conforto”, afirma o arquiteto.

Ao entrar no espaço, o visitante se depara com o espaço de jantar, que segue a já clássica receita de integrar cozinha ao estar. Uma bancada única de cinco metros concentra o local de preparo das refeições, enquanto uma mesa cumpre dupla função: comer e beber. Arrematando a composição, de um lado, ficam as cadeiras de jantar assinadas por Etel Carmona e, do outro, um pequeno espaço para o bar.

Mas é no ambiente social, diretamente interligado à parte íntima, com suíte e terraço, que ‘Ninho’ conquista quem o visita. “Eu busquei explorar o conceito de arquitetura ‘afetiva’, ou seja, da casa não só como um lugar de moradia, mas também como um espaço de emoções”, pontua Nildo, que espalhou pelo loft diversas peças de artistas, que tem histórias relacionadas ao luto e à cura de momentos difíceis na vida.

Sejam quadros ou esculturas, os objetos têm no coração seu elemento central e foram devidamente incorporados à decoração. Na sala de estar, um deles chama particularmente a atenção: pendente do teto e produzido com isopor traz cerca de 850 mil alfinetes.

O objetivo de fazer da casa um local de reflexão e bem-estar se torna ainda mais bem-sucedido na área íntima, que foi projetada de frente para o living, dentro de uma grande ‘caixa’ com mezanino, totalmente revestida por cerâmica branca. Na parte inferior, fica a suíte, com direito a banheira, cama de casal rebaixada e iluminação pontual na cabeceira.

Na parte de cima, com acesso por uma escada, está o cantinho de maior destaque no projeto de Nildo: um ‘terraço-jardim’ que funciona como espaço de meditação e relaxamento do morador. “O tema da Casacor neste ano, ‘Casa Viva’, me inspirou a criar um local totalmente verde dentro do loft. Uma espécie de ‘urban jungle’ (selva urbana, em tradução livre)”, comenta o arquiteto, que contou com a ajuda da paisagista Bia Abreu para a composição do espaço. Para Nildo, este foi o ponto diferencial do projeto em relação aos demais concorrentes. “Não é todo dia que a gente vê uma ‘selvinha particular’ acima de um quarto, né?”, brinca o baiano.

A conexão com o Jockey Club de São Paulo, onde a Casacor está sediada, também foi um referencial para o arquiteto, que manteve as esquadrias originais do local, buscando o mínimo de alteração possível na estrutura original. Além disso, a instalação do forro inclinado garantiu uma força arquitetônica ao conjunto. “Nós preferimos colocá-lo dessa maneira porque remete a um telhado inclinado, algo mais simples, lúdico e pouco convencional em construções urbanas como lofts”, explica o arquiteto.

Simplicidade e conforto que garantiram a Nildo um primeiro lugar no Prêmio Casa. “Todos os concorrentes apresentaram trabalhos belíssimos, impecáveis e de extremo bom gosto. O nível do júri também foi altíssimo. Tudo isso valoriza ainda mais a minha conquista”, comemora ele.

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