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Emoções amargas

Longe das trombetas, o céu muda para ex-rei nordestino

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo/Reprodução Depositphotos

Local onde as histórias ganham vida, as amizades se fortalecem, as mágoas são afogadas e as alegrias exacerbadas, o bar é normalmente o ambiente mais propício para recebermos boas e más notícias. Foi assim na tarde dessa terça-feira (25) quando soube que a Confederação Nacional dos Transportes (CNT) divulgaria uma nova pesquisa de avaliação do Lula 3. Antes de conhecer o resultado, tomei duas cervejas das mais amargas, seguidas de um copo duplo de groselha com água mineral gasosa, e esperei sentado a nova performance do rei do Nordeste.

Fiz isso para que, conforme os números, tivesse motivos para rir ou para chorar. Tudo sob a supervisão in loco de um oftalmologista e de um cardiologista. Precisava estar com as vistas bem limpas e aguçadas e com o coração palpitantemente seguro para avançar ou regredir em meus pensamentos futuristas. Degustando uma loira ao ponto e pronto para os finalmentes, soube que o índice de aprovação de Lula da Silva caiu de 50% para 40,5%, enquanto a desaprovação subiu de 46% para 55,3%, salto de 9 pontos percentuais.

Entretantos à parte, minha reação é o que menos interessa. Brindemos à boa vida e aos bons drinks, mas não direi se chorei ou se sorri. Seguindo os ensinamentos do irmão camarada Roberto Carlos, digo apenas que, embora amargas, emoções eu vivi. São tantas já vividas, mas, mesmo otimista demais, sinto que o touro está indo para o mesmo brejo onde já está o cavalo chucro. Detalhes que se repetem a cada eleição. Não sei quem vai chorar, muito menos quem vai sorrir. O que sei é que estou aqui, vivendo meu momento lindo à espera do trem azul. Como o boteco também é lugar de poesia, copiei o anjo Raul Seixas e escrevi na mão esquerda que o trem de 2022 talvez tenha sido o último do sertão.

Com certo melindre, rabisquei com caneta preta na mão direita que aquela estrela do amanhã se apagou faz tempo. Não há tempo que volte, senhor. Na testa, rascunhei que o céu não é mais o mesmo que ambos conheceram e que vejo um novo começo de era. Ainda não sinto o sinal das trombetas, tampouco dos anjos e dos guardiões. Embora esteja contente e orgulhoso por ter conseguido tudo o que eu quis, me falta a plena satisfação, isto é, aquela sombra sonora que acabe de vez com as cercas embandeiradas que separam brasileiros de brasileiros. Pedindo licença à pedra filosofal de Raulzito, decidi ser uma metamorfose ambulante e não ter mais aquela opinião formada sobre tudo.

Será que estou abestalhado? Quem sabe decepcionado! Meus pensamentos andam meio anuviados. Por isso, meu par de neurônios resolveu dar uma volta por esse mundão, no qual, com um punhado de açúcar e uma mãozada de afeto, talvez eu ainda encontre a fórmula do amor ao próximo. Enquanto isso, mandei meu tico para o boteco e o teco para a zona, onde ninguém de mal com a vida possa pensar nada errado sobre meu botico. Como não há nada que me faça deixar para amanhã a cerveja que posso beber hoje, somei os 40,5% da aprovação com os 55,3% da reprovação e tomei 95,8% de goró. Falta ingerir os goles da inelegibilidade. Farei isso com a satisfação que tenho direito.

Graças à palavra molhada pela cerveja gelada, pelo menos agora sou parte dos estudos que mostram que o brasileiro caminha 1.440 km por ano. Nesse mesmo período, o nacional bebe 86 litros. Ou seja, ele faz 16,7 km por litro. Acho que estou fazendo bem mais. Como nesses tempos de vacas magras no cercadinho e de bodes fugindo do pasto sem picanha, posso garantir que no bar até jacaré no seco anda. Sem mais delongas, às vésperas do Carnaval, sugiro àquele que não volta mais e àquele que está pela bola sete para, caso perca o brinco na folia momesca, não se abaixe para procurar, pois o risco de perder o anel é maior do que qualquer pesquisa de opinião.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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