Não que fosse tão chato. Bem, a palavra adequada não é essa, assim como também não seria cricri. Talvez, usando a vastidão do vernáculo, cheio de dedos seja o que temos para os paladares mais requintados ou, então, o corriqueiro arroz e feijão.
Lourdes Maria, mulher de família tradicional. Melhor! Era também abastada e poliglota e, talvez por conta de tantos predicativos, não possuía muita paciência com essa gente sem tempo para os livros. E não era sua culpa se a pobreza atingisse esse povo. Seja como for, vez ou outra, a madame se deparava com um desses habitantes sem classe, como aconteceu por esses dias, justamente na quitanda do seu Gomes, numa cidade do Entorno de Brasília..
— Sabe qual é o seu pobrema?
— Problema, meu amigo!
— Ué, já tamo assim de amizade?
— Prossiga, que meu dia é longo.
— Num sabia que dia de rico tinha mais que 24 horas.
— Milhões de compromissos. Não posso perder meu tempo com tolices. Vou-me, antes que a agressão vá além do acinte contra o dicionário.
— Dona Lourdes Maria, pelo visto, a senhora não tá perparada pra vida.
— Hum, pois, sim! Eu é que não estou pre-pa-ra-da? Pois me parece que é justamente o senhor o desprevenido.
— Como mamãe sempre dizeu lá em casa, a vida é uma sopa, mas tem gente que só sabe usar galfo. E se ela dizeu isso, eu também dizo e tenho dizido!
*Eduardo Martínez é autor do livro “57 Contos e Crônicas por um Autor muito Velho”.
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