Fofoca infrutífera
Lucrécia, impaciente, resiste a ímpeto de Aldenora para falar de novos vizinhos
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emResido num prédio que parece mais pombal que condomínio. Circunstâncias da vida, que não me permitem gastar mais por uma moradia. Não que aqui seja tão ruim, mesmo porque já tive outras piores. No entanto, sou incapaz de fechar os olhos para tanta balbúrdia promovida por certos vizinhos.
Não sou da patota, mas não nasci surda. Então, não queira você que eu tape os ouvidos para as fofocas que me chegam de supetão. Para falar a verdade, até me divirto com algumas, enquanto tenho ojeriza a tantas outras.
— Lucrécia, preciso te contar uma coisa!
A dona dessa frase que poderia arrebatar o coração dos mais curiosos é a Aldenora, vizinha do 304. Não vale um tostão, mas não serei eu a impedi-la de despejar aquilo que não consegue segurar dentro da boca. Portanto, que fale tudo e não me esconda nada.
— Pois diga.
— Num tem o casal que se mudou no mês passado?
— E por acaso mudou alguém pra cá?
— Num tá sabendo?
— Não.
— Num é possível!
— Hum! O que não é possível, Aldenora?
— Ué, você num tá sabendo!
— Mulher, o que eu não tô sabendo?
— Do casal que se mudou pra cá.
A ladainda, se eu não tratasse logo de cortar pela raiz, iria dar frutos graúdos na próxima safra.
— Olha aqui, Aldenora, eu não sei do que você tá falando. Se quer falar, que fale logo, pois tô sem tempo.
— Desculpe, Lucrécia. É que eu jurava que você tava sabendo.
— Pois não tô.
— Nem eu. No entanto, ouvi dizer que, com aqueles dois, as maracutaias são secretas, mas o cinismo é claríssimo.
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