Dona Luiza, a mãe, fica em Sampa, e Paulo cria 22 vagas para mulheres em Brasília
Publicado
emMichèlle Canes
Fora do mercado de trabalho há 10 anos, a ex-bancária Glória Barbosa não queria ficar parada e, aos 62 anos, resolveu procurar um novo emprego. A exigência de comprovar experiência em funções diferentes das que já tinha exercido antes dificultava a procura. A idade era outra barreira.
“Eles não falam diretamente, mas a gente percebe. Falam que não é o perfil, que querem uma pessoa mais habituada com a internet, computador. Eu sentia que eram portas fechadas”, disse Glória. Na sexta (18), porém, ela recebeu uma mensagem da sobrinha pelo celular e soube de um anúncio de emprego para mulheres com idade entre 60 e 80 anos. “Eu estava procurando emprego, mas, na minha faixa de idade, é muito difícil. No mesmo dia em que soube dessa vaga, fui lá.”
A ideia de dar uma chance de volta ao trabalho foi do empresário Paulo Pagani, que está abrindo, no bairro de Águas Claras, em Brasília, uma loja com diversos tipos de serviço, como padaria, crepreria, restaurante e minimercado. Paulo, de 61 anos, queria que a mãe fosse trabalhar com ele. Como a mãe, Luiza, não mora em Brasília e preferiu continuar em São Paulo, Paulo resolveu homenageá-la. Ele conta que a mãe foi quem teve a ideia “precursora” da loja e, por isso, decidiu contratar duas idosas para trabalhar no estabelecimento.
O filho de Paulo sugeriu colocar um anúncio convocando as idosas em uma rede social. “Eu não imaginava a força desse negócio. Em uma hora, tivemos 500 acessos. Em duas horas, 1.500, e o processo foi evoluindo. Ontem (23), tínhamos 53 mil acessos”, disse o empresário.
Paulo Pagani recebeu também mais de 200 ligações de mulheres interessadas no emprego e também de filhos que queriam ajudar as mães a conseguir trabalho. No dia da entrevista, muitos parentes aparecerem para dar apoio às candidatas. Uma delas era Glória Barbosa, que acabou contratada. E o que era desânimo transformou-se em entusiasmo: “Agora terei coisas para contar aos meus filhos.”
Para a entrevista, o empresário dispensou o currículo e adotou como critério a conversa. Algumas histórias o emocionaram e ele resolveu aumentar de duas para 22 o número de contratadas. Segundo Pagani, isso “revolucionou” o quadro de funcionários. “Com essa motivação, elas [as contratadas] vão mudar o conceito de ir para o trabalho”. Vão ocupar vagas na cozinha, na padaria, na pizzaria e, em especial, no atendimento ao público. “Existem dois tipos de funcionário: o técnico e o motivado pela profissão. Entre o técnico e a pessoa motivada, eu quero a motivada”, afirmou Pagani.
Aos 60 anos e fora do mercado há muito tempo, Jucilene de Oliveira achava que não voltaria a trabalhar. Depois que parou de trabalhar, para não ficar parada, chegou até a vender salgadinho. “A gente fica em casa sem fazer nada, adoece. Quero me sentir gente, uma pessoa reconhecida no mercado.” Ao receber a notícia de que conseguiu uma vaga, Jucilene foi logo comemorar com a família. “Filhos, noras, netos ficaram felizes porque viram que estou me sentindo bem. Foi uma terapia, serviu para renovar a autoestima.”
Para as candidatas que não conseguiram uma vaga, Jucilene manda um recado: “Não somos velhas. Somos novas de espírito e temos que procurar fazer amizade, trabalhar. Isso é muito bom para a saúde.”
E o dinheiro é importante? Jucilene afirma que sim, mas diz que não é o principal. “Esse dinheiro é importante, porque é bom ter o dinheiro da gente. Eu gosto muito de dar presente para os netos. Mas muito mais do que isso, o importante foi trabalhar, conhecer o público. Dinheiro não é tudo.”
Agência Brasil