Trump, a pedra no sapato
Lula começa 2025 com carro sem direção mas tentará pódio em 2026
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emA política internacional e a economia doméstica podem passar por transformações significativas em 2025, com dois fatores de peso no cenário global e nacional: o retorno de Donald Trump (um velho aliado e admirador de Jair Bolsonaro) à presidência dos Estados Unidos e a implementação do novo pacote fiscal aprovado pelo Congresso Nacional. Esses elementos têm o potencial de impactar diretamente os planos do governo Lula-3, exigindo ajustes estratégicos para lidar com novos desafios.
A volta de Donald Trump à presidência dos EUA representa um novo capítulo na política externa brasileira. Durante seu primeiro mandato, Trump adotou uma postura protecionista e priorizou negociações bilaterais em detrimento de acordos multilaterais. Isso trouxe consequências para o comércio internacional e para a dinâmica das relações com países emergentes, como o Brasil.
Com Lula no comando, a diplomacia brasileira busca fortalecer o multilateralismo e os blocos regionais, como o Mercosul. Contudo, o retorno de Trump pode criar tensões, especialmente em questões climáticas, já que ele demonstrou ceticismo em relação a tratados como o Acordo de Paris. O Brasil, por sua vez, tenta reconstruir sua imagem como líder ambiental, um dos pilares da política externa de Lula-3.
No plano doméstico, a política econômica será moldada pelo novo pacote fiscal aprovado pelo Congresso. As medidas, que incluem cortes de gastos públicos e alterações tributárias, visam equilibrar as contas do governo, mas podem limitar a capacidade de investimento em programas sociais e em infraestrutura, prioridades da gestão Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem defendido uma abordagem que combine responsabilidade fiscal com estímulos ao crescimento econômico. No entanto, a implementação do pacote fiscal, com as necessárias mudanças pontuais ao longo do primeiro semestre, exigirá novas negociações difíceis com o Congresso, além de enfrentar críticas da oposição e possíveis protestos sociais.
Há de se registrar que o pacote fiscal aprovado pelo Congresso Nacional será um dos pilares da política econômica brasileira em 2025. Apesar de ser visto como essencial para o equilíbrio das contas públicas, ele traz desafios e incertezas:
1. Controle de gastos: O governo precisará ajustar investimentos sociais e infraestrutura ao teto de gastos revisado, possivelmente comprometendo parte de sua agenda de inclusão social.
2. Atração de investimentos: A maior estabilidade fiscal pode atrair investidores estrangeiros, mas isso dependerá também do cenário global, que pode ser impactado pela liderança de Trump.
3. Inflação e juros: A eficiência das medidas dependerá de como o Banco Central reagirá em termos de política monetária, influenciada por pressões internas e externas.
Analistas políticos e até autoridades do governo – aquelas indicadas para a Esplanada dos Ministérios pelo Centrão – avaliam que o governo Lula-3 terá de revisar seus planos para 2025 à luz dessas mudanças. Na política externa, a estratégia será reforçar alianças com outros líderes progressistas e trabalhar pela integração regional. Na economia, o desafio será conciliar a necessidade de ajuste fiscal com a manutenção de políticas que promovam inclusão social e desenvolvimento sustentável.
Especialistas apontam que o sucesso do governo dependerá de sua habilidade em antecipar e responder a esses desafios. O contexto de 2025, como têm enfatizado cientistas políticos de variadas tendências, exige flexibilidade e capacidade de adaptação. Lula precisará mobilizar capital político tanto no Brasil quanto no exterior, mantendo uma espécie de âncora em parceiros do Sul Global, a exemplo de Rússia e China.
As alianças com Vladimir Putin e Xi Jinping são vistas interna e externamente como um ponto positivo, uma espécie de escudo refratário do que vier de ruim dos Estados Unidos. Somente assim, com um dinamismo cada vez mais acentuado – principalmente agora, quando o Brasil assume o comando rotativo do Brics – Lula poderá tentar redesenhar seu capital político. Mesmo porque, com 2026 cada vez mais perto, ficará difícil manter uma posição de vanguarda se deixar tudo para amanhã.
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Marta Nobre é Editora-Executiva de Notibras