Lula venceu uma eleição altamente polarizada em que, na prática, nenhum setor, nem os trabalhadores, se somaram unitariamente à um dos candidatos. Salvo o Exército e o agronegócio que não abandonaram Bolsonaro, todos estavam divididos. Parte do capital financeiro votou em Lula, parte não. Parte da indústria aderiu, parte não. Eleito, Lula teve que compor um governo com setores que não concordavam com os seus planos econômicos e sociais, tentou retomar sem sucesso o casamento dos primeiros mandatos com os ruralistas e ainda precisou lidar com duas heranças do governo anterior no Planalto, Arthur Lira e Campos Neto.
Passados quase dois anos, fazer a geringonça funcionar tem sido mais difícil do que parecia e os resultados estão abaixo da própria expectativa do governo. Na economia, por exemplo, a volta de políticas sociais melhoraram um pouco as condições, mas com o comportamento birrento e mimado do mercado financeiro, que não aceita o que não seja ?juros altos?, é difícil soltar o freio de mão do crescimento. Como resultado, a pobreza diminuiu, mas os super ricos estão cada vez mais ricos.
No Congresso, Arthur Lira instalou uma ditadura parlamentar na base de emendas que impede qualquer iniciativa legislativa ou executiva. Em ambos, a esperança de Lula é que 2025 seja diferente com as mudanças na presidência do BC e da Câmara. No primeiro caso, o nome de Gabriel Galípolo parece já ter passado pela sabatina da mídia e do mercado e agora espera pelo referendo do Senado. O próximo passo é a escolha do substituto de Galípoli na Diretoria de Política Monetária.
No segundo, o xadrez é mais delicado. O Planalto tem combinado o jogo com Lira, mesmo que sinalize o contrário, mas sabe que o favorito do coronel alagoano, o deputado Elmar Nascimento, será a continuidade da ditadura emendista. Ainda assim, o governo não quer correr o risco de começar o ano com uma derrota fragorosa na casa apostando num nome sem a unção de Lira que, por hora, ainda tem a caneta e o poder. Ainda assim, o jogo se decide mesmo em janeiro, que é quando o governo vai saber se pisa no acelerador ou se terá mais dois anos no ritmo da gambiarra.