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Trocando em miúdos

Lula deixa claro ao mundo que o Brasil não é Casa da Mãe Joana

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Mathuzalém Júnior - Foto Ricardo Stuckert/ABr

Depois de quatro anos de estultices diplomáticas e de ataques infantis, pueris e paupérrimos à instituição, o Brasil definitivamente está de volta à comunidade internacional. O discurso de Luiz Inácio na abertura da 78ª Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) encerra a fase do país como pária do mundo. Muito mais do que saber se expressar correta, eficaz e igualmente, hoje o país tem quem sabe o que propor. Provavelmente as propostas postas à mesa não encontrarão eco imediato entre os países ricos. Por exemplo, a ampliação do Conselho de Segurança da entidade em favor dos emergentes não agrada aos interesses ocidentais.

Por outro lado, cobrar solidariedade, vontade política e investimentos dos poderosos nas nações mais pobres soou como bálsamo para aqueles que sofrem com agendas de força, com as desigualdades, com as mudanças climáticas e, sobretudo, com a fome. Para os saudosos da caolha “brutice” ideológica, o discurso do mandatário brasileiro pode ter sido mais do mesmo. No entanto, falando em nome dos países em desenvolvimento, Lula deixou claro que o mundo mudou, que os emergentes têm mais peso e que, se for o caso, estão prontos para sugerir e participar de uma “rebelião” contra as proposições de cima para baixo. Tudo aquilo que aquele nunca soube dizer.

Sem fake news ambientais, gritos, xingamentos e ameaças, Lula passou para os mais ricos a certeza de que o Brasil não é mais aquela República de Bananas, cujo presidente, alijado dos grandes salões pós-Assembleia da ONU, recorria às pizzas em pedaços nas calçadas de Nova York. Na verdade, ele plantou bananas podres e colheu caretas, descasos, abandonos e uma longa inelegibilidade. Além disso, angariou uma brochabilidade presumida e não assumida. Felizmente, vivemos no inferno por apenas quatro anos. Nunca fomos e jamais voltaremos a ser algo do tipo Casa da Mãe Joana, comandada por “capetões”, escoltados por soldados de “puliça”.

Mais do que resgatar nossa soberania e reposicionar o Brasil no mapa-múndi, o presidente da República da altivez aproveitou o fórum da ONU para mostrar ao planeta que a maioria do povo brasileiro tem muita coisa de nobre para oferecer. Golpe é para quem escorrega no sabonete.

Por isso é que, utopia para uns e frustração para alguns poucos, o discurso de Lula deixou uma avenida de esperança e de salvação para os mais pobres, que também não admitem exclusividade da indignação dos líderes ocidentais em relação aos conflitos ao redor do mundo. Seriam lucros armamentistas, vultosos cálculos geopolíticos ou somente apostas seletivas naqueles que, a médio e longo prazos, podem gerar mais benefícios do que despesas?

Interessante é que os menos favorecidos são os mais cobrados. Nada contra e tudo a favor da Ucrânia de Volodimir Zelenski. O problema é que também há guerras e intempéries devastadoras na Palestina, no Iêmem, no Sudão, Líbano e Síria. Tudo bem que esses países não rendem dividendos, mas o maciço investimento do G7 na Guerra da Ucrânia fortalece a fala de Lula, que não pede mais do que uma partícula desses recursos para ajudar os mais pobres a combater as mudanças climáticas e a financiar o desenvolvimento de seus povos. A matemática é simples: se dividir, sobre para todos.

Pelo sim, pelo não, os aventureiros de extrema-direita, surgidos dos “escombros” do neoliberalismo, estão como birutas de aeroportos. Temporariamente, eles substituíram a política responsável e de resultados por “soluções fáceis e equivocadas”. Lá como cá, deu no que deu. Donald Bolsonaro e Jair Trump perderam o timing e, pela televisão, assistem à vitória da democracia, das boas falas e do reconhecimento.

Com ou sem restrições pontuais, a atenção dispensada ao Brasil pelo mundo vai ao encontro dos esforços de Luiz Inácio. Já são quase 20 países visitados em oito meses de gestão. É muito? Depende de quem avalia. É pouco se a intenção é elevar o Brasil ao patamar das grandes potências, recuperar a influência no planeta e lutar contra as desigualdades. Como os indicativos são nesse sentido, a autoestima do povo brasileiro agradece.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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