No auge do besteirol do governo que foi para o beleléu, lembro ter dito que, às vezes, é melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida. O desfecho eleitoral mostrou que eu estava certo. O peixe morreu pela boca, fisgado por 60,3 milhões de eleitores que, a uma só voz, lhe pediram: “Por que não te calas?”. Amigo que nunca trai e também uma grande ferramenta para o aprendizado, o silêncio novamente é lembrado. Refiro-me ao presidente da hora, Luiz Inácio Lula da Silva, que, por razões diversas, não foi informado sobre a melhor forma de tentar esquecer tudo que a gente não consegue entender, mas que dói dentro de nós. Lula tem dado munição ao adversário, o que pode levar seu governo a começar exatamente como acabou o anterior.
A sabedoria vem da capacidade de manter a calma. No caso específico, a tarefa é difícil, mas, embora seja a pior prisão, a mudez ainda é a melhor resposta. No dicionário do politicamente correto, maturidade é usar a quietude para não entrar em brigas desnecessárias. Fazer barulho gera celeumas e ruídos inconvenientes e prejudiciais, principalmente para um mandatário em início do trabalho. Enfim, a serenidade é a linguagem dos fortes. O governo de Lula da Silva não é virtual, tampouco está ou esteve próximo do beleléu. Muito pelo contrário. Está cada vez mais longe do abandono a que foi levado por um líder e colaboradores das mil e uma noites do apagão. No entanto, permitir que o outro tenha fôlego é o mesmo que começar a entregar os pontos antes da hora.
Presidente Luiz Inácio, reflita sobre o que disse e use a repercussão como experiência e exercício para hoje, amanhã e depois de amanhã. Em um momento de inspiração triplicada, o neurologista e psiquiatra austríaco Sigmund Freud deve ter escrito ou dito uma frase para Lula usar como mantra a partir de agora: “Existem momentos na vida em que as palavras perdem o sentido ou parecem inúteis. E, por mais que pensemos numa forma de empregá-las, elas parecem não servir. Então, a gente não diz, apenas sente”. Belo ensinamento para quem, apesar da reconhecida inteligência e do raciocínio rápido e lógico, eventualmente fala demais. Falar acima dos decibéis permitidos serve apenas para despertar os abutres e os cavalos coiceiros que definham no pasto. Eles acordam e recomeçam os coices.
Não é hora de jogar contra o próprio patrimônio. Gol contra nessa altura do campeonato é encher de combustível o tanque do lanterna do torneio. Tudo indica que já encheu. Bem pertinho da segunda divisão, o fujão aproveitou o gás e já fale em voltar quinta (30) ao Brasil. Depois do beleléu, tudo é possível. Falando em possibilidade, obviamente que o ex-juiz Moro não inventou as ameaças do PCC. Na mesma proporção da obviedade, é difícil negar que ele tenha usado o episódio para redigir um discurso capaz de lhe garantir dividendos políticos. Como fazia o antigo chefe. A verdade é que, fábula ou não, a história pececista ainda precisa ser explicada em seus mínimos detalhes. Portanto, presidente Luiz Inácio, o sossego e o remanso devem ser a principal arma contra quem nos ofende, nos julga ou nos fere.
De uma vez por todas, não permita a bolsonarização tacanha de seu governo. Não corra esse risco. Deixe que digam, que pensem e que falem. Deixa isso pra lá, vem pra cá. O que que tem? Vai por mim. Se avexe não. Antes, contenha os ímpetos do seu partido por cargos. Mister e miss Sunshine se perderam no beleléu e por lá devem ficar, embora Valdemar Costa Neto e o general Braga Netto pensem o contrário. Que pensem. Para ilustrar, beleléu é um lugar de localização indefinida. Em alguns mapas, fica além da Cucuia. Em outros, faz fronteira com o Cafundá do Judas e o Raio que os Parta do Norte. Como diz meu amigo Zé, o menestrel das urnas eletrônicas, beleléu tem algumas características estranhas: nenhum de seus matos tem cachorro, todas as vacas estão no brejo e nem todas as joias das arábias foram recuperadas. Sorte nossa que o beleléu não é mais aqui.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978