Após quase uma década sem protagonista político e de um vácuo de autoridade sem precedente, O Brasil voltou, com todas as honras, ao cenário dos grandes debates com Luiz Inácio Lula da Silva, legitimamente eleito presidente da República pela terceira vez.
Embora os conflitos de interesse estejam na crista da onda, não há que se atribuir a um mandatário prestes a completar seu primeiro ano de mandato derrotas que não são apenas dele, mas de um conjunto de fatores que extrapola o ambiente do Congresso Nacional.
É impossível olvidar de governantes que preferiram se isentar de suas responsabilidades, delegando ao Legislativo a tarefa de tomar as grandes iniciativas e de governar o país.
Por isso, certo ou errado, Lula decidiu entrar na “briga”, de modo a recuperar a condução política do Executivo nacional. Portanto, eventuais derrotas pontuais não devem ser creditadas a um líder reconhecidamente inteligente e que está no início da gestão. É primário culpar alguém que herdou um “latifúndio” minimamente gerenciado por pessoas que nunca foram do ramo.
Ciente das dificuldades de uma reeleição, a decisão foi pela tática de terra arrasada, cuja máxima é destruir tudo que possa ser proveitoso e eventualmente utilizado pelo “inimigo”, inclusive a relação de parceria com o Congresso Nacional. Foi o que fez o líder daqueles que ainda não se convenceram que perderam.
Malconduzidos, mal-amados e pessimamente esclarecidos, esses poucos insistem em chorar o leite derramado. Como diria o poeta, o bom caminho é haver volta. E a pavimentação desse novo caminho começou a surgir nas cabeças pensantes do presidente e de todos aqueles eleitos com a intenção de priorizar o povo brasileiro tão logo o Senhor dos Anéis e das joias árabes deu o derradeiro suspiro.
Nos últimos meses, Lula arregaçou as mangas. O primeiro grande passo foi reconduzir o Brasil às principais mesas do mundo. Na sequência, se buscou a reconquista da primazia de governar, negociando e aprovando no Congresso temas fundamentais para o governo, consequentemente para o povo.
O razoável é que eventuais confrontos políticos não comprometam ou influenciem o interesse coletivo. E por que chegamos a essa situação conflituosa? Arte do possível, a política brasileira normalmente se traduz – pelo menos se traduzia – em lados distintos. Cristalizado em passado recente, esse “fenômeno” era um complicador, mas, no fim e ao cabo, gerava discussões parcimoniosas de lideranças, isto é, de grupos.
Havia parlamentares que defendiam projetos corporativos e outros brigavam pelas propostas fisiológicas. Para sorte do país e do povo, mesmo representando linhas ideológicas antagônicas, a maioria debatia grandes teses, tinha projetos de interesse público convergentes.
Está aí a diferença para a complexidade do atual Congresso. Se no passado a dimensão e o fervor político alcançavam as grandes corporações, hoje o maior e mais eficaz interesse é pessoal e das pequenas oligarquias regionais, ambos vinculados ao fisiologismo. O resumo da ópera é que nos Congressos de 2018 e de 2022, cada parlamentar era uma negociação. Independentemente da força do governante e de seus negociadores, obviamente que isto torna desgastante e oneroso o trabalho de articulação política.
Não é das mais fáceis a tarefa de recuperar o protagonismo do Executivo e o equilíbrio entre os poderes. Luiz Inácio tem essa disposição. Com certeza, o presidente trabalha firme para rapidamente dirimir a dúvida e a tirania existente entre a razão e a emoção. Com apoio de todos que pensam primeiro no Brasil, entre eles o ministro Fufuca, não tenho dúvida de que ele usará a parte positiva das duas.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978