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A morte da esperança

Lula livra Brasil de um naufrágio em alto mar, e pode morrer na praia

Publicado

Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo* - Foto de Arquivo/ABr

Assim como toda araruta tem seu dia de mingau, qualquer cidadão anarquista, gozador ou brincalhão tem obrigação de pensar e agir com seriedade quando o que ele imaginava perfeito descamba para o lugar comum. É o meu caso na narrativa de hoje. Metade mais uns do eleitorado brasileiro entendeu a eleição de 2022 como a volta da esperança por dias melhores. Essa foi a principal razão para a escolha de um presidente que, àquela altura, se comprometeu a governar para todos e todas, independentemente de ideologia, formação religiosa ou simpatia por sistemas de governo. Explícito ou implícito, o comprometimento incluía o bem-estar da população e as várias formas de amar.

A ideia é que nada seria como antes. A boiada morreu na praia, abrindo caminho para a banda passar. Meses após a posse, a ordem superior era combater o bom combate. A promessa que escorreu pelo ralo do centralismo partidário sinalizava um relacionamento aberto, respeitoso e desvinculado de todo tipo de restrição política. Não havia dúvidas de que os diferentes seriam tratados como iguais. A máxima vigente era no sentido de que o Brasil estaria livre de mitos, fake news, reuniões ideológicas e gabinetes personalistas e nocivos à sociedade. O tempo passou e o governo do presidente Lula perdeu – e continua perdendo – boas chances de mostrar ao eleitorado nacional que é mentirosa a tese bolsonarista da morte da esperança.

A catástrofe climática que atingiu o Rio Grande do Sul, Estado de maioria contrária à corrente da esquerda e, em alguns casos, ao Brasil, poderia ter se transformado no trampolim definitivo para a reeleição de Luiz Inácio em 2026. Sem o principal adversário, a recondução para uma quarta reencarnação era pule de dez, mas não está perdida. Estará se o atual mandatário e seu séquito de colaboradores insistirem em achar que o eleitor é burro. O jornal O Estado de S.Paulo publicou na segunda, 10, e nesta terça, 11, reportagens afirmando  que a Presidência da República criou um “Gabinete da Ousadia” para pautar redes sociais, influenciadores e demais veículos governistas. Ou seja, como o supostamente extinto Gabinete do Ódio, tudo a favor do governo Lula. O ruim é literalmente aspirado para debaixo do tapete.

Em outras palavras, é azeitar o chicote para dar no lombo dos eventuais críticos. Resumindo, o que parecia mudado permanece estrategicamente voltado para o personalismo. A positiva participação da União no apoio ao governo e ao povo do Rio Grande deixou de ser contada em prosa em verso. Virou cobrança de fatura. Liderados pelo “ministro” Paulo Pimenta, o trabalho que se faz objetiva exclusivamente “vender” a imagem de bonzinho do presidente da República, rebater o que é visto como fake news, incluindo o material produzido pela chamada grande imprensa, e atender preferencialmente os que buscam informações de interesse do Palácio do Planalto. Críticas e críticos não participam, tampouco têm acesso ao que é discutido e resolvido na reunião das cinco do “Gabinete da Ousadia”.

É claro que em todo o planeta os governantes precisam de escudos, de blindagem, principalmente para combater gabinetes criados para destilar ódio e divulgar mentiras deslavadas. Desnecessárias são as couraças contra a sociedade, cuja necessidade de informação também implica a divulgação de questões que possam afetar negativamente o bom andamento de uma administração. Não é democrático ou salutar expertises somente para alimentar imagens, estimular egos ou falsear feitos. Importante para o país é que a divulgação dos fatos e fotos seja verdadeira. Mesmo sujeito a desaprovação, reprimenda ou rejeição, o Brasil real precisa ser mostrado sem medos.

O governo anterior foi a prova de que a omissão ou a exposição irreal não têm o poder de mudar a realidade. Somente a ação tem esse poder. Se não puder agir, informe sobre o impedimento. Em qualquer relação, o diferente incomoda e chama atenção. No entanto, ele também forma, informa e cria consciência. Como afirmam alguns pensadores, dê asas à imaginação, mas não esqueça de pensar no trem de pouso. O registro a ser feito é simples: sistematicamente a mídia é acusada de condenar inocentes e absolver culpados. Essa mesma mídia tem o direito de acessar informações que permitam mostrar à sociedade que governos manipuladores impedem que os governados sejam donos de suas próprias ideias. Antes da ojeriza à crítica, vale refletir que, às vezes, a discordância custa muito pouco diante da grande valia para propostas, balizamentos e pensamentos futuros. Por enquanto, tudo indica que, após livrar o Brasil de um iminente naufrágio em alto mar, o governo Lula pode acabar morrendo na praia.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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