Curta nossa página


Guinada para o centro

Lula muda ideologia e veste a carapuça dos traíras

Publicado

Autor/Imagem:
Marta Nobre - Foto de Arquivo

O atual cenário político é crônico para Lula. O presidente brasileiro redesenha sua postura ideológica, refletindo um equivocado movimento estratégico em busca de maior equilíbrio e pragmatismo no cenário internacional. O petista, porém, pode dar um tiro no próprio pé. Logo ele, que sempre foi associado a pautas progressistas e de esquerda, parece agora buscar alianças e estabelecer uma linha de diálogo que também se estende ao centro e à direita. Este perigoso movimento de aproximação é reflexo de uma necessidade de fortalecimento político e de manter um diálogo aberto com diferentes setores, tanto internos quanto externos. Lula, porém, sabe que tem um preço a pagar se desviar-se dos projetos do Sul Global.

Ao buscar proximidade com o centro e a direita, Lula tenta garantir maior apoio em questões de governabilidade. Se a ideia é incorporar apoios a uma eventual nova candidatura em 2026, pode dar com os burros n’água. Em um país politicamente polarizado como o Brasil, essa movimentação pode ser interpretada como uma tentativa de neutralizar opositores e formar uma base mais ampla de apoio. Esse gesto começa a desagradar a verdadeira esquerda, que pula do barco como sardinha que escapa da armadilha de uma rede. Essa manobra pragmática para consolidar seu governo diante de desafios econômicos e sociais abre as portas do escuro caminho do ostracismo.

No cenário internacional, a distância de Lula em relação a líderes como Vladimir Putin e Xi Jinping – confirmada com um providencial acidente caseiro, que o impediu de viajar para a reunião do Brics na Rússia, pode ser entendida como uma tentativa de não se alinhar totalmente a regimes que enfrentam forte crítica no Ocidente, especialmente em tempos de guerra e tensões comerciais. Enquanto Putin enfrenta isolamento devido à guerra na Ucrânia, Xi Jinping lida com uma China que tem desafios econômicos e de influência. Lula, ao evitar envolvimentos diretos com esses líderes, parece querer preservar relações comerciais com blocos como União Europeia e Estados Unidos, buscando diversificação e autonomia.

Outro ponto delicado nas relações internacionais de Lula é a questão de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela. Lula parece pressionar Maduro a partir de uma postura crítica, ainda que cuidadosa. O Brasil, como um líder regional, tem influência direta na política latino-americana e a instabilidade na Venezuela continua sendo um tema espinhoso. Lula tenta uma abordagem que demonstre responsabilidade, sem romper completamente com o governo venezuelano, o que poderia alienar outros aliados na América Latina. Mas esse é um erro crasso da gestão Lula 3. Se até Ernesto Geisel, no auge da ditadura, apoiou os movimentos guerrilheiros de independência no continente africano, por que motivos o dono da estrela vermelha brasileira estaria querendo distância de Nicolás Maduro, um velho aliado com quem brindou o futuro desde a morte do seu também amigo Hugo Chávez?

O BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) passa por uma reconfiguração geopolítica, e o Brasil corre o risco de perder sua força dentro do bloco, dado o afastamento de Lula de figuras como Putin e Xi Jinping. O BRICS, que sempre foi visto como um grupo de contrapeso às economias ocidentais, enfrenta desafios em manter uma coesão interna em meio a diferenças políticas e econômicas. Se o Brasil se distanciar demais de seus parceiros no BRICS, poderá perder protagonismo, especialmente com a possibilidade de expansão do bloco para novos membros, como a Venezuela e o Irã.

Lula redesenha sua ideologia e postura política com o intuito de ser mais flexível e pragmático, navegando em um cenário tanto nacional quanto internacional que exige múltiplos alinhamentos. No entanto, esse equilíbrio é delicado. Enquanto tenta se distanciar de regimes mais autoritários, como os de Putin e Xi Jinping, e manter uma linha de diálogo mais ampla, Lula também enfrenta a pressão de manter o protagonismo do Brasil no BRICS e nas dinâmicas regionais. O desafio é encontrar um ponto de equilíbrio que não comprometa sua base, mas que também não isole o Brasil nas arenas globais.

Publicidade
Publicidade

Copyright ® 1999-2024 Notibras. Nosso conteúdo jornalístico é complementado pelos serviços da Agência Brasil, Agência Brasília, Agência Distrital, Agência UnB, assessorias de imprensa e colaboradores independentes.