A diplomacia brasileira tem desempenhado um papel silencioso, mas crucial, na tentativa de conter as tensões geradas pela crise venezuelana na América do Sul, especialmente no contexto do Brics, onde Brasil, Rússia e China compartilham interesses estratégicos. Com a deterioração contínua da situação política e econômica na Venezuela, o impacto transborda para os países vizinhos, pressionando tanto o Brasil quanto outras nações sul-americanas.
A postura brasileira é marcada por um jogo de equilíbrio delicado. Ao mesmo tempo em que mantém uma posição crítica em relação ao governo de Nicolás Maduro em foros internacionais, Brasília busca preservar suas alianças no Brics. Para tanto, o Itamaraty recorre a uma estratégia de conversas discretas, ao pé do ouvido, com seus parceiros mais influentes — Rússia e China —, em um esforço conjunto para evitar que a crise na Venezuela desestabilize ainda mais a região.
Tanto Moscou quanto Pequim têm seus próprios interesses na Venezuela, que vão além da América do Sul, e veem o país como um importante aliado em termos geopolíticos e econômicos. A Rússia, por exemplo, tem fortes laços militares e contratos de petróleo com o governo Maduro, enquanto a China é um dos maiores credores da Venezuela. Qualquer desestabilização grave pode impactar diretamente esses interesses, e a diplomacia brasileira se esforça para convencer seus parceiros de que uma solução negociada e gradual seria preferível a uma escalada de tensões.
Por meio dessas negociações, o Brasil tenta não apenas fortalecer seu papel como líder regional, mas também garantir que os laços no Brics permaneçam firmes, mesmo diante de divergências em questões de direitos humanos e democracia. Além disso, o governo brasileiro está ciente de que uma ruptura brusca com Maduro poderia desencadear um fluxo ainda maior de refugiados e agravar as crises sociais e econômicas nas fronteiras.
Por orientação do Palácio do Planalto, o Itamaraty tem adotado uma abordagem pragmática, buscando convergir interesses diversos e evitando confrontos públicos que possam prejudicar relações estratégicas mais amplas. A arte de conversar ao pé do ouvido, nesse caso, é uma demonstração da habilidade diplomática em trabalhar nos bastidores, conciliando princípios e realidades.