Tete-a-tete com Moro
“Lula pediu, mandei dar 40 milhões para ele”, diz Odebrecht
Publicado
emMarta Nobre, Edição
Mais um abacaxi a Silva descascar: ele recebeu 40 milhões de reais, por fora, para atender suas demandas pessoais – entre as quais, a manutenção do Instituto que leva o nome dele. A afirmação é de Marcelo Odebrecht, feita ao juiz Sérgio Moro na segunda,10, e que veio a público nesta quarta-feira, 12.
Segundo o empresário, que está preso em Curitiba, o ex-ministro Antônio Palocci serviu de ‘carro-forte’ para fazer o dinheiro chegar às mãos do destinatário. No depoimento ao responsável pela Lava Jato, Odebrecht foi categórico, conforme a transcrição de áudio indicada a seguir:
“Tinha um saldo de R$ 40 milhões do que eu tinha combinado com Palocci. O que eu combinei com Palocci foi o seguinte: essa era uma relação minha com a Presidência, o PT. Eu disse: ‘olha, vai mudar o governo, vai entrar a Dilma. Esse saldo passa a ser gerido por ela, a pedido dela’. Eu combinei com Palocci. A gente sabia que ia ter demandas de Lula, a questão do Instituto, para outras coisas. Vamos pegar e provisionar uma parte deste saldo e aí botamos R$ 35 milhões num saldo amigo, que é Lula, para uso que fosse orientação de Lula”, declarou.
O delator prosseguiu: “A gente entendia que Lula ainda ia ter influência no PT. Como era uma relação nossa com a Presidência, PT, tudo se misturava. A gente botou R$ 40 milhões que viriam para atender as demandas que viessem de Lula. Eu sei disso. O Lula nunca me pediu diretamente. Essa informação eu combinei via Palocci.”
Segundo Marcelo Odebrecht, no entanto, houve duas situações em que ele identificou que Lula saberia do ‘saldo amigo’.
“Óbvio que ao longo de alguns usos, ficou claro que era realmente por Lula, porque teve alguns usos que ficou evidente para mim que era o uso. Teve alguns que o pedido era feito e saía via espécie. O Palocci pedia para descontar do saldo amigo. Quando ele pedia para eu descontar do saldo amigo, eu sabia que ele estava se referindo a Lula, mas eu não tinha como comprovar”, disse.
Odebrecht explicou também que “As duas únicas comprovações que eu teria de que Lula de certo modo tinha um conhecimento dessa provisão foi quando veio o pedido para compra do terreno do Instituto IL, que eu não consigo me lembrar se foi via Paulo Okamotto ou via Bumlai. Com certeza foi um dos dois e depois eu falei com os dois. Eu deixei bem claro que se eu fosse comprar o terreno sairia do valor provisionado. A gente comprou o terreno, saiu do valor provisionado e depois o terreno acabou… A gente vendeu o terreno e voltou a creditar.”
O empreiteiro delator disse ainda, de acordo com a transcrição do depoimento, que “teve também, faz parte da minha colaboração, uma doação para o Instituto Lula em 2014 que saiu do saldo ‘amigo’. São as únicas duas coisas que eu consigo dizer. O resto, essa informação vinha do Palocci, quando ele pedia para Brani pegar o dinheiro em espécie. Ele dizia: ‘Olha, era para abater do saldo ‘amigo’ ou do saldo ‘Itália’ que era gerido por ele’.
Odebrecht falou ainda sobre o Instituto Lula. Segundo ele, “O prédio IL foi aquele pedido que eu comentei com o sr. Em meados de 2010, o Paulo Okamotto ou o Bumlai, um dos dois, fez o primeiro approach. Mas depois eu conversei com os dois. Veio dizer que o Bumlai e Roberto Teixeira tinham fechado um terreno que queriam que fosse a futura sede do Instituto Lula. Queriam que a gente comprasse o terreno e doasse. Eu tinha acertado o valor que em tese era para ser doado todo. Vocês não querem, vocês ficam pedindo aos poucos. Se arrancar do provisionamento que eu tenho com Palocci, tudo bem. Mas eu tenho que pegar autorização dele. Eu fui em Palocci e disse: ‘Palocci, pessoal tá querendo Instituto. Tem autorização sua para usar esses recursos no IL?’. Ele disse que sim. Eu fiz a transação, a gente comprou o terreno. Eu pedi a um amigo meu que prestava serviço para a empresa, de confiança, ele comprou o terreno no nome da empresa dele. Depois não andou em frente. Uma empresa nossa imobiliária acabou comprando o terreno para um empreendimento imobiliário. Depois não teve interesse. Eles resolveram comprar e depois desistiram. Foi feito um débito e lá na frente um crédito ao saldo Amigo”, afirmou Marcelo Odebrecht.