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Governo sem erros

Lula precisa manter um olho no futuro e o outro no retrovisor

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto Valter Campanato

“Os cães ladram e a caravana passa”. Embora já meio esquecida pelo decurso de prazo e, portanto, desconhecida pelos jovens de hoje, a expressão tornou-se famosa na voz e na escrita do colunista social Ibrahim Sued, sucesso nacional entre o fim dos anos 60 e meados dos 70. Apesar de “apagado” pelo tempo, o bordão se aplica literalmente aos dias de hoje. Aliado à célula golpista, que busca desesperadamente uma inexistente brecha para melar a eleição, há o silêncio e abandono inédito e absurdo de Jair Bolsonaro. Isto gerou o absoluto desgoverno e a acefalia do país. O fato é novo, mas esperado pela maioria dos brasileiro desde que Luiz Inácio venceu as eleições democraticamente em 30 de outubro passado.

Para os que insistem na idiotice golpista, lembro a letra da canção Boa Sorte. É só isso/Não tem mais jeito/Acabou/Borte sorte/Não tenho o que dizer/São só palavras.

Pois é, enquanto procuram entender o que não conseguem na música escrita por Ben Harper e Vanessa da Mata, Lula da Silva é presidente desde a instalação do governo de transição, isto é, há pelo menos um mês. Ou seja, Lula Lá será o único mandatário da história do Brasil a governar por quatro anos e dois meses. Nesse período, foram duas importantes vitórias no Senado, onde ele já conseguiu aprovar a PEC que garantiu o futuro do Bolsa Família e a proposta alterando a Lei das Estatais, de modo a viabilizar a chegada de Aloizio Mercadante ao BNDES. Na minha singela opinião e na do mercado, Mercadante não é o cara, mas, por hora, é o que temos.

A ordem de Luiz Inácio, eleito comandante do avionaço chamado Brasil, é vislumbrar o futuro, mas sem tirar os olhos do retrovisor. Os eventuais erros cometidos no passado não podem ser repetidos. Obviamente que não há como fugir de um governo suprapartidário, de coalizão. É a união que faz a força. O que não deve ser permitido é um governo só de companheiros. A obrigação é novamente orgulhar o povo brasileiro. Nessa união também deve ser incluído o Poder Judiciário e o que sobrar de bom no Congresso. Ficou claro nos discursos durante a diplomação que Lula e o presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes, estarão lado a lado contra a bandidagem digital, decorrente da nova política brasileira de ataques gratuitos à democracia.

Todos sabem que as fakes news partem de um núcleo elitista, besta e soberbo da sociedade. Fácil identificá-lo. Por isso, repetindo frase de Alexandre de Moraes, elas (as fake news) estão com os dias contados. Isolado politicamente do mundo e, agora, afastado de todos e de tudo que um dia imaginou ter sido seu, Jair Bolsonaro perdeu e passará para a história com um presidente grosseirão – até mais do que o último general da ditadura – e sem qualquer noção do que é ser líder de uma nação de quase 220 milhões de habitantes. Foi eleito sabe-se lá porque e, por isso, passou o mandato escoltado pela expertise das velhas raposas da Câmara e do Senado. Só dava o ar da graça quando queria aparecer ou xingar adversários, a imprensa e Luiz Inácio. Nasceu politicamente de um desses abortos da natureza e morreu pela boca.

Conhecido deputado federal pelos projetos que não apresentou, ele deixará a Presidência da República marcado pelas coisa que não produziu. Bolsonaro ainda não é, mas já já será passado distante. Lula ainda não é o principal inquilino do Palácio do Planalto, mas ocupa simbolicamente a cadeira que será sua, de fato e de direito, a partir de janeiro próximo. Até lá, apenas detalhes a serem resolvidos, entre eles calar de vez o grito rouco e desvairado dos que morrem de medo de voltar para o lugar de onde saíram: o ostracismo. É uma questão de tempo.

Quanto a novela que não consegue chegar ao último capítulo sem a morte dos protagonistas, mais um capítulo foi escrito nessa quarta-feira (14) pelo vice-presidente Hamilton Mourão, general eleito senador pelo Rio Grande Sul. Em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo, ele critica a política econômica de governos petistas, convoca apoiadores a manterem acesa a “chama da direita” e não dedica nem uma linha contra os atos golpistas em frente aos quartéis, muito menos para repreender os “patriotas” que quebraram delegacia, incendiaram ônibus e automóveis e quase invadiram a sede da Polícia Federal. Nada tenho a ver com a relação do general com Jair Messias. Entretanto, vale lembrar que, apesar da patente, Mourão passou quatro anos mendigando a amizade – pelo menos um sorriso – do tenente. Tentou, tentou, mas não conseguiu.

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