Brasil com Z
Lula resgata respeito pelo país. E se desse Bolsonaro?
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emNão tenho vocação para vidente. Também não tenho bola de cristal, mas gostaria de ter pelo menos uma centelha do dom dos que preveem ou viajam até o futuro. Talvez um desses marcianos que circulam pelos planetas e, dizem os maluquetes, já pousaram em Brasília, mais precisamente em frente ao Quartel-General do Exército, no dia seguinte à consumação de Luiz Inácio como sucessor do mito na Presidência da República. Para azar dos “patriotas” ali reunidos, nenhum anticristo conseguiu anotar a placa do OVNI. Portanto, ficou o dito pelo não dito. Águas nem tão passadas, pois ainda hoje tenho a impressão de que os extraterrestres continuam fazendo a cabeça do povo abestadamente enlouquecido pelas fanfarras do Jair, cópia fiel do Nicolás, o que, em breve, deve cair de maduro.
Digo isso porque os psicodélicos bolsonaristas, incluindo governadores oportunistas, parlamentares sem lastro, jornalistas sem tato, pastores sem nexo e o rebanho sem pasto, pintam o Brasil de hoje como uma nação fadada ao fracasso e bem próxima de um despenhadeiro sem fim. Algo como a venezuelização que um dia eles imaginaram ou o Brasil com Z. Como também não fui matriculado nos cursos de mentira a distância e não sou chegado a ilações, procurei pais de santo sérios e corajosos para saber se eu, desavisadamente, estava vivendo em um país diferente daquele que eles anunciam como terrível.
Informado que o meu país não é o deles, porque o deles, além de nocivo, não é comunitário, isto é, não cabem os brasileiros que deles discordam, resolvi perguntar à vassalagem bolsonarista o que seria – ou como estaria – do Brasil se Jair ainda estivesse no comando. Embora saiba antecipadamente que as divergências são patéticas e normalmente ameaçadoras, respondo que nem no pior dos meus pesadelos consigo imaginar alguma coisa mais desastrosa. Para início de conversa, dificilmente teríamos mantido as parcerias comerciais conquistadas por governos anteriores, entre eles o do ambiguo Lula da Silva.
Duvido e desafio alguém a negar que o presidente argentino Javier Milei seria o nosso principal parceiro de doidices e de buraco negro. Se alguém topar, dobro a aposta. Sem margem de erro para cima ou para baixo, provavelmente estaríamos hoje em um plano superior ao de pária do mundo, igualzinho à Venezuela de Maduro. Quem sabe nos coubesse melhor o título de escória do planeta, sujo sinônimo é a parte mais desprezível. Nesse caso, Jair e seus seguidores teriam de cravar 10% em nome do Pai, 20% em nome do Filho e 50% em nome do Espírito Santo para garantir a vitória de Donald Trump em novembro próximo.
E nossas florestas? Será que elas permaneceriam de pé? E os índios? Continuariam vivos? E nossos rios infestados de piranhas fantasiadas de garimpeiros? Ainda teriam cursos? As democráticas praias seriam reservadas somente para a elite da barganha? Com a palavra os apopléticos, os coléricos, os azougados e os abespinhados. Os imperturbáveis, pacatos, mansos e distensos têm a resposta na ponta da língua. Se Jair é tão bom porque o mundo virou as costas para o Brasil sob seu comando? E se Lula é tão ruim porque ele é considerado externamente o político mais bem-sucedido de seu tempo? Deixando de lado os entretantos, cheguemos aos finalmente.
O governo Lula pode não ser – e não é – sucesso de público. No entanto, desde a posse ele recuperou a simpatia e o respeito internacional, aprovou uma reforma tributária histórica, conseguiu cumprir as promessas de elevar o salário-mínimo e o Bolsa Família e, no primeiro ano de seu mandato, a economia cresceu 2,9%. O último feito foi anunciar mais de R$ 400 bilhões para a agricultura familiar. Enfim, pagos para desconstruir, os marcianos dos “patriotas” estão muito desinformados. Como diz o ditado circense, recalque e inveja são “flórida”. Parafraseando o escritor irlandês Oscar Wilde, o número dos que invejam alguém confirmam as capacidades do invejado. Por fim, será que ainda há alguém que diga que Lula iria venezuelizar o Brasil?
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978