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Lula se veste de Walesa e põe Europa em seu lugar

Os anos 70 e 80 do século passado colocaram o capitalismo (e a direita e o comunismo exacerbados) de cabeça para baixo na América do Sul e países europeus, notadamente na Polônia. Enquanto nas terras tupiniquins Lula surgia como uma liderança sindical incontestável, logo em seguida o polonês Lech Wallesa seguiu o mesmo caminho para tirar os operários polacos das mãos dos seus exploradores tiranos

Lula tinha, então, sangue nos olhos. Enfrentou uma potência militar dirigida por generais de plantão no Palácio do Planalto, e promoveu uma greve nunca vista no país. Os metalúrgicos do ABC paulista pararam. Depois foi a vez de  médicos, professores, jornalistas, garis… Surgiram, então, a CUT, a CGT e o PT.

Na Europa, Wallesa bateu de frente com as baionetas e os canhões da extinta União Soviética. Tanto fez que greves pipocaram como milho em panela quente.

Embora não necessariamente simultâneos, separados que foram por um período equivalente a uma década, os dois movimentos deixaram claro que o imperialismo que reinava começava a ruir. Aqui, preso e solto, Lula era ovacionado. Em Varsóvia, o mesmo acontecia com Wallesa.

O surgimento desse movimento sindical internacional atravessou fronteiras. Wallesa, talvez mesmo com o apoio de lideranças europeias que temiam a influência soviética, criou o Solidarność (Solidariedade) e com o voto das massas trabalhadores elegeu-se presidente em 1990, governando por cinco anos. Depois, confiando muito nos caciques de Paris, Londres, Roma, Berlim e Madrid, caiu no ostracismo, transformando-se em um mero ativista político.

Lula, sem ir ao pote com  muita sede. preferiu criar bases mais fortes. Ao contrário de Pedro, não negou seu povo três vezes. E enquanto Lech Wallesa era engolido pela neve do infernal inverno europeu, Lula vivia anos primaveris. Uma greve aqui, outra ali, mais uma acolá. E Lula, finalmente, chegou ao Palácio do Planalto nas eleições de 2002. Tomou posse no dia 1º de janeiro do ano seguinte, para só deixar as rédeas do poder em 2010, quando elegeu Dilma Rousseff sua sucessora.

Tudo isso passa como um filme noir na cabeça de Lula, mas com cores de jardins que florescem em plena primavera. Uma dessas situações foi nesta segunda-feira, 17. Antes de receber o chanceler russo Sergey Lavrov em uma visita de cortesia lá no Alvorada, o presidente reuniu-se com três ministros palacianos e o presidente da uma estatal. O tema, conforme relato que chegou a Notibras, foi a reação da União Europeia e do Tio Sam na pessoa de Joe Biden à posição do Brasil na guerra que travam russos e ucranianos.

Lula abordou o assunto com firmeza nas últimas setenta e duas horas – justamente o período que encerrou a visita à China e iniciou uma escala nos Emirados Árabes. Seu tom foi o do velho sapo barbudo que até Brizola teve de engolir. O presidente viaja a Portugal esta semana. Em Lisboa, como em outras capitais do Velho Continente, a direita extremista anda cuspindo fogo.  Lula vai falar sobre paz. Mas terá sangue nos olhos para quem desejar colocar rédeas nele.

Às favas com essa globalização que só pensa nos umbigos dos dirigentes do G7. O aniversário da Revolução dos Cravos motivou a viagem do nosso presidente. Vai levando uma bandeira branca, pregando o diálogo para acabar com os conflitos que abalam o planeta. Mas se alguém elevar o tom, Lula mostrará que o velho sindicalista do ABC paulista está vivo, conforme confidenciaram ministros palacianos, E, revigorado, pode acender o pavio de uma nova Solidarność. Não apenas na Polônia. Mas em toda a União Europeia. Com tanta força que respingará em solo norte-americano.

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