O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está embarcando para Kazan, na Rússia. Vai participar, nos dias 22 e 24, da reunião do Brics, bloco do Sul global que decidiu colocar à prova a hegemonia dos Estados Unidos e União Europeia no mundo. Além das questões econômicas (como a desdolarização entre os mercados do Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul) há o aspecto político: o ingresso da Turquia e Irã. A geopolítica mundial deve ganhar novos contornos. E dois conflitos serão amplamente debatidos – a guerra russo-ucraniana e o massacre do povo árabe por Israel.
A expansão do Brics, agora com a entrada de potências emergentes asiáticas e orientais (a Turquia, por exemplo, está virando uma ovelha negra dentro da Otan), representa uma mudança significativa no cenário geopolítico, com implicações diretas no equilíbrio de poder no Oriente Médio e na hegemonia do Ocidente na região.
A inclusão de dois países estrategicamente localizados no que se convencionou chamar de barril de pólvora mundial, fortalece o papel do bloco como uma aliança econômica e política capaz de contestar a influência de norte-americanos e europeus. Até porque, aquelas letras pequenas que estamos acostumados a ler de passagem em contratos, deixam claro uma confraria mosqueteriana do um por todos e todos por um. Ou seja, na eventualidade de um pega pra capar de verdade, mísseis balísticos serão acionados em diferentes direções.
A reunião do Brics nesse início e meio da semana, para discutir a expansão do grupo, é mais do que uma questão econômica. A entrada de países como o Irã, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, e a Turquia, uma potência militar e porta de entrada entre o Oriente e o Ocidente, poderá transformar o Brics em um bloco com maior influência nos assuntos energéticos e de segurança regional.
O Irã tem sido um oponente tradicional das políticas ocidentais, especialmente em relação às sanções lideradas pelos Estados Unidos. A inclusão iraniana intensificará a cooperação em áreas como energia e comércio, além de permitir a criação de redes financeiras alternativas, minimizando a dependência de sistemas dominados por potências ocidentais. E, claro, armas para um sistema de defesa e ataque. Já a Turquia, membro da Otan, mas com uma postura cada vez mais independente, poderá trazer uma dinâmica diferente ao grupo, uma vez que equilibra seus interesses entre o Ocidente as duas potências regionais – China e Rússia.
Essa expansão é vista como um desafio direto à ordem mundial liderada por Tio Sam e pela União Europeia. O bloco já tem mostrado interesse em desenvolver alternativas ao dólar como moeda de comércio internacional, o que, por certo, enfraquecerá o domínio econômico do Ocidente. O fortalecimento de laços com o Oriente Médio, uma região historicamente estratégica para os interesses energéticos e militares do Ocidente, vira uma mensagem clara de que o Brics está disposto a atuar como um contrapeso a essa hegemonia.
Além disso, a reunião servirá como um sinal de alerta para os EUA e a União Europeia sobre a crescente insatisfação com as suas políticas unilaterais, incluindo as sanções econômicas e intervenções militares no Oriente Médio. A aproximação de países historicamente críticos ao Ocidente sinalizará uma nova era de alianças multilaterais, onde o controle de fluxos de energia, rotas comerciais e recursos naturais não dependerá mais exclusivamente das potências ocidentais.
Essa expansão do Brics também intensificará os debates sobre as soluções para os conflitos regionais no Oriente Médio. Países como o Irã e a Turquia têm interesses diretos em temas como a crise na Síria, a guerra no Iêmen e as tensões no Golfo Pérsico. Com a Rússia e a China já desempenhando papéis significativos na política do Oriente Médio, a inclusão desses países no Brics criará novas plataformas de diálogo, mas também aumentará as rivalidades com o Ocidente.
Em síntese, a reunião dos dias 20 e 22, avalizadas as inclusões do Irã e da Turquia, não apenas marca uma mudança nas alianças globais, mas também serve como um sinal de advertência aos EUA e à União Europeia sobre a necessidade de reavaliar suas estratégias no Oriente Médio. A perda de influência ocidental em uma das regiões mais voláteis e ricas em recursos do mundo poderá ter consequências de longo alcance, mas com efeitos já a curtíssimo prazo, tanto para a política externa quanto para a economia global.