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Reflexo bolsonarista

Lula torce em silêncio por derrota do Tio Sam radical

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Autor/Imagem:
João Moura* - Foto de Arquivo

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, de 81 anos, ao desistir da sua campanha de reeleição depois de uma crescente desconfiança sobre a sua acuidade mental, não surpreendeu o mundo. Mundo, aliás, que passa a compartilhar da polarização política na terra do Tio Sam. Por essas bandas, Lula foi discreto. Comentou que a relação profícua entre dois povos independe de quem esteja no comando. Mas, pelo sim, pelo não, é melhor ter uma amiga na Casa Branca do que um travestido Bolsonaro com as cores vermelha e azul enfeitadas de estrelinhas negras.

Mas, diante diante da polarização política na corrida pela Casa Branca, o que acontece agora no cenário estadunidense e mundial? Em comunicado via redes sociais, Biden disse que permanecerá em seu papel como presidente e comandante-chefe até o final de seu mandato em janeiro de 2025. Ele deve ser manifestar ainda nesta quarta, 24, para detalhar a decisão de não concorrer à reeleição.

Biden também anunciou apoio à candidatura da vice-presidente, Kamala Harris, como cabeça de chapa pelo partido Democrata. Isso confirma que o cenário político dos Estados Unidos tem sido marcado por uma polarização crescente, particularmente evidente desde a disputa presidencial de 2020 entre Joe Biden e Donald Trump. Esta divisão não só persiste até hoje, como parece se aprofundar, influenciando a forma como os americanos percebem a política, a sociedade e o futuro do país. É importante que analisemos criticamente essa polarização, suas raízes, implicações e possíveis caminhos para o futuro do povo americano com reflexos em todo o mundo.

A polarização política nos EUA não é um fenômeno novo, mas a intensidade com que se manifestou nas eleições de 2020 foi sem precedentes. A campanha de Donald Trump foi marcada por um estilo combativo e populista, que mobilizou uma base de apoio fiel, mas também gerou profunda animosidade entre seus opositores. Trump apostou em uma retórica nacionalista, de “América Primeiro”, e em uma comunicação direta e muitas vezes polarizadora via redes sociais. Sua administração foi marcada por controvérsias, desde a gestão da pandemia de Covid-19 até às relações internacionais e questões raciais.

Joe Biden, por outro lado, apresentou-se como o candidato da unidade e da moderação. Sua campanha focou na promessa de restaurar a “alma da América”, buscando apaziguar as divisões e retomar um estilo mais tradicional de governança. No entanto, a vitória de Biden, longe de pacificar o cenário, expôs ainda mais as fissuras existentes. A recusa de Trump em aceitar os resultados das eleições e os eventos do 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio, sublinharam a profundidade da crise democrática que os EUA enfrentam.

A polarização tem raízes profundas. Fatores econômicos, culturais e midiáticos desempenham papéis cruciais. A desigualdade econômica crescente e a percepção de perda de status entre determinados grupos sociais alimentam ressentimentos. Culturalmente, questões como direitos civis, imigração e identidade de gênero tornaram-se pontos de contenda. Na mídia, a fragmentação e a proliferação de canais de notícias partidários e redes sociais criaram ecossistemas informativos paralelos, onde verdades alternativas prosperam.

A continuidade e o aprofundamento da polarização no cenário político dos EUA representam um desafio significativo para a democracia americana. A figura de Donald Trump, mesmo fora da Casa Branca, continuou a influenciar a política nacional, enquanto Joe Biden lutou para implementar sua agenda em um ambiente altamente dividido. O futuro é incerto, mas uma coisa é clara: para superar a polarização, será necessário um esforço concertado de líderes políticos, mídia e sociedade civil para promover o diálogo e a reconciliação.

Mesmo que a presidência dos EUA, tendo Joe Biden como condutor desde 2020, tenha sido marcada por conquistas significativas e desafios notáveis, ele enfrentou uma pressão crescente dentro de seu próprio partido, o Democratas, para que saísse da disputa devido a sua capacidade cognitiva ter sido posta a prova para disputar as eleições (e continuar a governar). Porém, sem um compromisso sério com a inclusão social e o respeito às instituições democráticas, a polarização continuará a minar a estabilidade e a coesão dos Estados Unidos.

O caminho para a frente não será fácil, mas é imperativo que se busquem soluções que transcendam a retórica divisionista e fomentem um senso renovado de propósito comum. Em sua fala aos seus colegas Democratas, Joe Biden disse: “Decidi não aceitar a nomeação para concorrer a reeleição e concentrar todas as minhas energias nas minhas funções como presidente durante o resto do meu mandato. Minha primeira decisão como candidato do partido em 2020 foi escolher Kamala Harris como minha vice-presidente. E foi a melhor decisão que tomei. Hoje quero oferecer todo o meu apoio e endosso para que Kamala seja a indicada do nosso partido este ano. Democratas – é hora de nos unirmos e derrotar Trump. Vamos fazer isso!”

Kamala Harris já assegurou número mais que suficiente para ser aclamada a nova candidata. Seu nome vem ganhando força em um cenário de embate contra o ex-presidente Donald Trump e ela deve ser confirmada em agosto como candidata dos democratas, durante a convenção do partido. Como Lula está fazendo, os defensores da democracia devem fazer o mesmo. Torcer por Kamala é dever de quem prefere um sistema democrata a um rebuscado governo branco raça-pura. O desfecho final é uma incógnita. Mas quem tem um pássaro (da paz, preferencialmente) na mão, vive melhor do que quem vê dois voando.

*João Moura é Professor e Filósofo, observador da anatomia de governos e sociedades.

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