Passou o arcabouço, mas...
Lula vence uma, mas só um craque em campo não dá título
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emA votação – registre-se como importante e expressiva – e consequente aprovação do arcabouço fiscal foi uma vitória que deve ser muito comemorada pela área econômica do Governo. O ministro Fernando Haddad alçado ao posto de principal nome do Governo na área econômica demonstrou um desempenho formidável, impressionando tanto parlamentares da dita base aliada, bem como da oposição. Um nome em especial tornou-se o seu maior aliado, Arthur Lira (PP-AL).
O presidente da Câmara teve um papel essencial na aprovação, promovendo diversas reuniões de líderes, conversas intermináveis, como a do dia da votação, onde os deputados ficaram 6 horas na residência oficial da Presidência da Câmara discutindo ponto a ponto o relatório de Cláudio Cajado (PP-BA).
Parlamentares que normalmente se destacam no tema econômico me confidenciaram que o entrosamento entre Haddad e Arthur Lira chamou a atenção e proporcionou uma discussão segura e aprofundada dos temas, deixando à margem críticas da oposição e até mesmo de alas do PT que pretendiam excluir o Fundeb, o que de certa maneira, estava contemplado no parecer do relator.
Ainda na seara econômica é necessário lembrar que o convencimento da necessidade de aprovação do arcabouço fiscal ficou a cargo quase que exclusivamente de Haddad, o qual, como diz o presidente Lula, botou a bola debaixo do braço e marcou o gol mais importante até aqui de sua gestão à frente do Ministério da Fazenda.
A tramitação no Senado Federal está prevista para esta semana com a eminente designação do senador Omar Aziz (PSD/AM) para a relatoria. Já há negociações avançadas para que o texto tramite pela Comissão de Assuntos Econômicos com prioridade; em seguida, em regime de urgência, siga para a deliberação em Plenário.
Senadores mais experientes apostam que até o final do mês de junho, mesmo com as festas juninas que costumam diminuir o ritmo de votações no Congresso, o arcabouço fiscal estará aprovado e seguido para a sanção presidencial.
Porém, como sempre tenho dito neste espaço de bate-papo, nem tudo são flores para o Governo Lula no Congresso. Os Deputados ainda se queixam de que os pagamentos de emendas já empenhadas estão atrasados ou mesmo não sendo feitos, a pressão dos prefeitos só aumenta e os recados vê sendo dados, principalmente em pautas sociais muito caras e significativas durante a campanha eleitoral.
A aprovação do marco temporal da demarcação de terras indígenas, o esvaziamento do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério dos Povos Originários sem grande resistência da base aliada, mostra um descompasso gritante entre a trilha de sucesso econômico do Governo com as pautas sociais e de costumes.
O líder do PT na Câmara minimizou o ocorrido, porém o que corre nos corredores do Congresso Nacional é que ou o Governo ajusta sua conduta, cumpra os acordos com os parlamentares, ou outras derrotas virão e ficará difícil afirmar que está tudo bem. Não é de mais lembrar que a maioria expressiva da militância anseia pelas bandeiras sociais da esquerda, e por maior que seja o êxito na política econômica, não será suficiente para conformar-se.
A participação mais direta do presidente Lula nas negociações ainda não surtiu o efeito esperado, talvez esteja esquentando o corpo. O problema é que a partida está em andamento e não se tem muito tempo a perder. Ou, como se diz nas arquibancadas do Maracanã, de nada adianta ter um craque em campo com uma defesa inconsistente.