Notibras

Lula, como Vargas, luta contra patrimonialismo na crise capitalista

Em seis meses de governo, Lula se vê diante do maior adversário histórico do Brasil, o patrimonialismo conservador, cada vez mais organizado para impedir o seu sonho de promover desenvolvimento social e econômico com justa distribuição da renda nacional, uma das mais concentradas do mundo.

A direita patrimonialista fascista mostra sua cara com desfaçatez crescente no processo de discussão da reforma agrária e da reforma tributária em andamento no Congresso.

Trata-se de poder, vocacionado, historicamente, ao fascismo, empenhado, firmemente, mediante domínio das instituições, como aconteceu no golpe parlamentar jurídico, parlamentar e midiático de 2016.

Diante dele, Lula representa a resistência da classe trabalhadora e se dispõe, como porta-voz dela, a atuar como verdadeiro Dom Quixote.

Sua vitória, em 2022, sinalizou que a validade histórica fascista é relativa, politicamente, por conter em si o viés antidemocrático, como demonstrou o ultraneoliberalismo bolsonarista, vocacionado ao rompimento com o status democrático, demonstrado em 8 de janeiro de 2023.

Sua vocação é eliminar trabalhadores, armas conscientes, politicamente, que lutam contra a desigualdade e a extinção dos direitos sociais, veículos da distribuição de renda mediante democratização do poder.
No que se empenhou o bolsonarismo no poder com discurso ultra neoliberal fascista?

Destruir as conquistas essenciais dos trabalhadores erguidas depois da revolução de 1930, varguista, que botou abaixo o neocolonialismo econômico do século 19, dominado pela economia clássica inglesa, seguida pela dominação americana, no século 20, obstáculo ao desenvolvimento sustentável pelas armas imperialistas, aliadas da elite antidemocrática tupiniquim.

As conquistas sociais constitucionais abriram portas para social-democracia, que o fascismo cuida de tentar destruir em todo o mundo, a começar pelos Estados Unidos, no embate da disputa presidencial antecipada do próximo ano.

Os fascistas não suportam a social-democracia que, no século 20, avançou com modernização econômica induzida pelo Estado, com seu poder de emitir moeda para organizar o orçamento público, pressionado pelos avanços dos partidos socialistas e sociais-democratas.

As mudanças quantitativas e qualitativas levaram à revolução socialista soviética, cujos líderes, diante de conjunturas econômicas e politicamente explosivas, resultantes em guerras civis, dividiram-se quanto à melhor forma de implementar o sonho socialista, de eliminar a propriedade privada e estabelecer a propriedade comunitária.

As divisões, no centro do domínio socialista, sob ataques permanentes dos capitalistas, levaram às diversas concepções de como chegar ao ideal socialista, ainda, uma quimera utópica, sonho do qual parcela crescente da humanidade se alimenta como salvação da civilização.

Qual a alternativa?
A melhor forma seria a conquista paulatina do socialismo em um só país, caminhando para sua disseminação mundial, passo a passo, mediante alianças entre capital e trabalho, alteradas, conjunturalmente, por correlações de forças que se formam no tempo e no espaço?

Ou seria mais conveniente para o poder emergente dos trabalhadores ficar atento à lição de Hegel, de que “tudo muda – as vezes lentamente, às vezes aceleradamente –, só não muda a lei do movimento segundo a qual tudo muda”?

A correlação de forças, que dá a última palavra, pode acomodar, mas, também, pode revolucionar, no ritmo do movimento do capital, cujas contradições desequilibram permanentemente as forças produtivas.

Ao contrário de equilibrá-las, como tentam fazer crer, pela força, os conservadores equilibristas esquizofrênicos liberais, o processo não obedece à matemática nem ao mecanicismo, mas, essencialmente, à dialética.

Nesse sentido, o que determina, em última instância, é a economia política, nunca a política econômica neoliberal, como a que vigorou no bolsonarismo fascista.

Lição da história
Assim, não se descarta que revoluções decorrentes de acertos/desacertos entre forças submetidas e exploradas pelo capital espoliador se emerjam, virando situações de cabeça para baixo, abrindo novas perspectivas históricas, especialmente, em periferias capitalistas em que vigoram capitalismo tardio, como na América Latina, sob guerra mundial à vista.

A revolução francesa e a russa-soviética são tradução disso. A primeira veio estabelecer o reino da propriedade privada; a segunda, o reinado da propriedade comunitária.

O vir a ser hegeliano de ambas ainda está em curso em metamorfose ininterrupta, como destacam os pacientes chineses, sem se saber quem é o vencedor, afinal.

A direita, nesse contexto, não se adapta nunca. Essencialmente conservadora, reage às mudanças e se organiza para destruir os agentes da transformação social, os trabalhadores, o trabalho, valor que se valoriza.

A esquerda, invariavelmente, sem poder de fogo, divide-se entre a acomodação possível com a direita e o rompimento com ela, no compasso das contradições.

Pré-revolução no campo
Nesse momento, no Brasil, cresce e se fortalece o discurso das radicalidades possíveis de rompimento do status quo.

Avança, subterraneamente, a unidade entre trabalhadores da cidade e do campo, em defesa da reforma agrária, visando destruição do histórico patrimonialismo que domina as elites desde o descobrimento debaixo do colonialismo, intensificado pelo ultraneoliberalismo.

Nesse ambiente histórico, as irrupções tendem a dar as cartas.

Os países capitalistas desenvolvidos romperam com as estruturas patrimonialistas arcaicas por meio da reforma agrária.

Com ela, dividiu-se as grandes em pequenas propriedades, cujo desdobramento foram distribuição de renda, fortalecimento do mercado interno, das classes médias, dos partidos políticos e, consequentemente, da democracia, ameaça aos fascistas.

O PT é temido pelos conservadores porque defende a bandeira do MST, agente político dos pequenos e médios produtores rurais, massacrados pela grande propriedade rural. Esta domina, atualmente, o estado nacional, protetor e promovedor de vantagens econômicas aos grandes proprietários, como se vê no debate da reforma tributária.

O domínio do Congresso por maioria conservadora, que compra voto parlamentar e se organiza para distribuir as verbas orçamentárias, inviabiliza a ligação mais orgânica dos trabalhadores da cidade com os do campo.

Veículo de transformação
Lula, nesse ambiente, como agente legítimo da classe trabalhadora, negocia, sem força política institucional, com forças reacionárias majoritárias contra continuidade do atraso histórico patrimonialista.

Sua relação com o Congresso, dominado pelas forças conservadoras patrimonialistas, anti-nacionalistas, anti-industrialização, pró-capital internacional ultraneoliberal, está freada por ajuste fiscal anti-desenvolvimento econômico e social insustentável protetor das classes rentistas.

Está na coleira do patrimonialismo que condena o país ao colonialismo. Se forçar a unidade entre cidade e campo pela revolução capitalista, etapa necessária antes de o trabalhador chegar ao socialismo, pode cair, salvo se estourar rebelião popular, capaz de sustentá-lo.

Essa possibilidade de disjunção política interna, dadas as estruturas conservadoras dominantes, requeria conjunção orgânica de fatores internos e externos diante da conjuntura nacional e internacional abalada pela crise capitalista e pela guerra emergente.

Caso estoure guerra mundial, cantada em prosa e verso pelos analistas, que leve a uma nova conjuntura internacional, as condições internas, certamente, ganhariam impulso, não só no Brasil, mas em toda a América Latina.

Romperiam novos horizontes. A guerra potencial no campo, no momento, em debate no Congresso, é o germe da mudança que abriria horizonte à industrialização e consequente ebulição da classe trabalhadora.

O capitalismo tardio parasitário financeiro especulativo, que vive de agiotagem, protegido por Banco Central Independente, desconectado da realidade brasileira, é o maior obstáculo ao drama histórico enfrentado por Lula em sua luta para romper o status quo.

Sair da versão mobile