Ádamo Araújo
Macacos do Jardim Zoológico de Brasília são objeto de estudo para pesquisa sobre o zika vírus. A ideia é esclarecer se há envolvimento dos primatas no ciclo epidemiológico desse agente infeccioso.
A investigação vai apontar ainda se algum dos animais da amostra tem o vírus ativo. O trabalho é encabeçado pela médica-veterinária Ianei de Oliveira, pesquisadora da Universidade Federal da Bahia.
O estudo integra a tese de doutorado de Ianei, que conta com parceria do Instituto de Virologia da Universidade de Ulm, na Alemanha. De acordo com ela, apesar de ser mais comum em humanos, o vírus já foi identificado em macacos rhesus, conhecidos também como macaca mulata, em Uganda, na África.
As coletas das amostras de sangue ocorreram há duas semanas e foram enviadas para a instituição alemã, onde a pesquisadora brasileira chega nesta semana para acompanhar de perto a evolução do trabalho.
Além da unidade no Distrito Federal, outros zoológicos, como o do Recife, o de Salvador e o de Belo Horizonte, ofereceram animais para a pesquisa. Centros de triagem e alguns casos de animais soltos na natureza serão estudados.
A médica calcula que cerca de 50% dos 70 macacos existentes no local, tanto no micário quanto nas ilhas, foram usados como objeto de estudo. Entre eles, os micos e os macacos-prego, bugio e barrigudo.
Na Universidade de Ulm, serão feitos o estudo sorológico e o diagnóstico por análise da biologia molecular do vírus, para avaliar se há contaminação por contato.
Após encontrar a resposta sorológica, os colaboradores darão profundidade à pesquisa a fim de saber como ocorre a infecção nos primatas e qual o papel que eles ocupam no ciclo epidemiológico.
A pesquisadora frisa, porém, que não se sabe ainda se o vírus tem algum potencial patológico em primatas, mas em seres humanos ele está relacionado com alterações em fetos. “Apesar de ser feita em macacos, a pesquisa ajuda diretamente as pessoas, pois o material genético de ambos é muito próximo”, explica.
Por esse motivo, a médica-veterinária ressalta a importância dos primatas na correlação com os humanos. “Esses animais são considerados bioindicadores”. Ou seja, para esse caso, se um macaco adoece com uma virose, a chance de um ser humano ser afetado é muito grande.
De acordo com o diretor-presidente do Jardim Zoológico de Brasília, Gerson de Oliveira Norberto, mais de 20 pesquisas estão em algum estágio de execução atualmente na fundação. Entre os assuntos abordados, destaque para comportamento animal, nutrição e bem-estar das espécies.
“Até o fim de abril planejamos divulgar em nosso site cerca de 200 temas com o objetivo de atrair pesquisadores que queiram implementar seus projetos no Zoo”, conta Norberto.
Segundo ele, o zoológico se sustenta sobre três pilares: educação, conservação e pesquisa ambiental. “Decidimos, nesta gestão, implementar a articulação com a comunidade científica e abrir a unidade como campo de estudo e desenvolvimento do conhecimento”, completa o diretor.