Aceitando sugestão do curador francês Franck-James Marlot, da galeria parisiense Denise René, que o representa, o artista pernambucano Macaparana reuniu no Museu Lasar Segall seus mais recentes trabalhos ao lado de sua coleção particular de mestres que o marcaram, de Albers a Willys de Castro, passando por Calder, Hércules Barsotti, Jean Arp, Max Bill e Volpi – todos representados por obras expostas na sala anexa à mostra dos seus trabalhos inéditos. Não poderia, portanto, ser outro o nome o da exposição: Afinidades.
Em cartaz até 6 de agosto, ela segue em dezembro para o Paço Imperial, no Rio. Em São Paulo, são dez as obras de Macaparana. No Rio, serão 18. Elas não surgiram como releituras das obras dos artistas citados, mas com o propósito de revelar ao público o universo criativo do artista e suas afinidades eletivas. Convivendo desde a infância com o geometrismo da arte popular pernambucana, Macaparana foi posteriormente “adotado” em São Paulo, nos anos 1980, por dois mestres da arte neoconcreta brasileira, Hércules Barsotti e Willys de Castro.
Naquele época, o artista explorava combinações geométricas em obras de madeira reciclada, assemblages que remetiam ao trabalho do pintor uruguaio Torres García (1874-1949), criador do movimento Universalismo Construtivo. Na Europa, Torres García ficou muito amigo do holandês Theo van Doesburg (1883-1931), um dos criadores do movimento De Stijl, embrião do neoplasticismo e da escola Bauhaus. Não por outra razão, a ordem mondrianesca exerceu enorme influência sobre o brasileiro, que apresenta na exposição do Museu Lasar Segall uma obra com referência direta às composições em grade de Mondrian, pelas quais o pintor holandês ficou conhecido.
Pigmento e tinta acrílica sobre cartão lana, a referida obra tem a mesma medida das outras nove em exposição (110 x 102 cm), todas derivadas da matriz construtiva que sempre guiou o trabalho de Macaparana, especialmente marcado pela arte concreta Um dos artistas brasileiros com maior trânsito internacional – o segundo número da revista alemã Kwer, que circula amanhã, traz trabalhos dele -, Macaparana conta que em setembro será a vez de Barcelona (Galeria A 34) ver sua nova produção (selecionada por Paco Rebés, o veterano marchand que trabalhou com Picasso e Miró).
A relação do artista pernambucano com ícones que fazem parte de sua coleção privada não passa pelo fetichismo. “Como convivo com essas obras diariamente, cada vez que olho um trabalho é como se o visse pela primeira vez”, diz, esclarecendo que não tinha a intenção de prestar tributo aos mestres, mas mostrar como as afinidades “sempre foram naturais” entre artistas. “Naturalmente, o movimento concreto marcou minha trajetória, mas não me vejo como herdeiro dele.”