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Fracassos masculinos

Macho de carteirinha é sensível, mas deixa o mel e come a abelha viva

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo/Reprodução Intercept Brasil

Mestre das frases e do bom humor, o jornalista e escritor Millôr Fernandes partiu dessa para melhor afirmando que “o melhor movimento feminino ainda é o dos quadris”. Fecho com ele e lamento por aqueles que não apreciam por uma ou outra razão. Azar o deles. Entre esses, há os machistas, cujo mal maior é ter pavor de mulheres bem resolvidas e sem medos. Desde que o mundo é mundo, ser machista não é sinônimo de virilidade, mas de ignorância. Macho que é macho alfa não come mel. Ele engole a abelha viva, mas trata qualquer mulher com sensibilidade e educação. Portanto, o recado para aqueles que acham que ser homem significa superioridade sobre as mulheres é simples: você precisa repensar suas crenças.

Seja de direita, esquerda, centro, de cima, debaixo ou de lado. Seja o que quiser, mas tente não ser machista, homofóbico, racista, misógino ou intolerante religioso. Quando tudo isso cabe em um homem só, duvide dele. Avaliando ex-presidente da República, desembargador, empresário, motorista, pedreiro, entre outras profissões, venho notando que o homem ama mesmo é outro homem, porque as mulheres eles humilham, espancam e matam. Como sempre recorro aos filósofos quando o tema é encardido, faço minhas as palavras ditas por Aristóteles ainda nos anos 350ª.C: “A mulher pode ser definida como um homem inferior”. É o que são os que se incluem na lista dos três is: “imbrocháveis, imorríveis e incomíveis”.

Esses se fazem de moucos quando alguém diz que a mulher é capaz de uma pirueta do tipo frango assado invertido, mas deixam para os homens o duplo carpado da ruela perdida. A referência aos três is decorre da medalha entregue por Jair Bolsonaro a Javier Millei durante recente encontro para coisa alguma em Balneário Camboriú. É assim que o mito classifica a si mesmo. Não questiono a capacidade masculina do ex-presidente, mas, como sempre ouvi de meu avô Aristarco Pederneira Araújo, duvide daquele que se sublima. Em outras palavras, em determinadas ocasiões o silêncio é a melhor companhia, sobretudo quando se trata de um misógino de carteirinha.

E o que escrever sobre o desembargador paranaense Luís César de Paula Espíndola que, em uma sessão do Tribunal de Justiça local, disse que as “mulheres estão loucas atrás de homens”? Nada, além de mostrar aos leitores o quanto ele é pequeno. Ninguém havia pedido sua opinião a respeito, principalmente porque a causa em análise tratava de um pedido para derrubar medida protetiva que proíbe um professor de se aproximar de uma aluna de 12 anos. Para quem já foi condenado, em 2018, pelo Superior Tribunal de Justiça por agressão à própria mãe e à irmã, o cidadão não deve ser levado a sério como magistrado.

É um direito do moço não gostar de mulheres. O que não se permite a um homem supostamente estudado é dizer publicamente em um plenário judicial que “a mulherada tá louca atrás de homem para levar um elogio, uma piscada, uma cantada educada”. Segundo o desembargador, o mundo chegou a um ponto em que são as mulheres que assediam os homens. Ele só não disse que, caso isso realmente esteja ocorrendo, a culpa é exclusivamente dos “machos” que não se comportam como deveriam ou que preferem covardemente descarregar seus fracassos masculinos em quem os pariu ou dormem com eles.

Como a fala do camarada gerou grande repercussão nos meios jurídicos, a expectativa do mundo esclarecido e amante do sexo feminino é que Conselho Nacional de Justiça vá fundo nas costelas e no rabanete do tal desembargador misógino, covarde e ultrapassado. Consciente e convicto de minha respeitosa paixão pelas mulheres, sugiro que ele receba como punição o recolhimento de uma ou duas semanas em um presídio feminino, daqueles em que as mulheres não correm atrás de homens. Elas os esperam na paz de Deus para, na primeira oportunidade, mostrá-los com quantos paus se faz uma canoa ou, se preferirem, como fazer um misógino virar cabra macho com apenas duas sentadas. Aí, certamente ele sairá de lá com a sugestão de um novo nome: Décio Cupra Amin.

*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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