Jogada perigosa
Macron tenta negociar na Ásia sem bênçãos de Moscou e Pequim
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emO presidente francês, Emmanuel Macron, deverá visitar o Cazaquistão e o Uzbequistão na quarta e quinta-feira, no que supostamente visa apoiar o desejo dos dois países da Ásia Central de “reforçar os seus laços com a Europa”. Também deverá estar em cima da mesa a questão de fornecer à França mais urânio do Cazaquistão, que continua a ser o principal fornecedor deste componente químico a Paris. A França está supostamente tentando garantir o fornecimento do metal radioativo após o golpe no Níger, o terceiro maior fornecedor de urânio do país.
Comentando a viagem de Macron, o analista estratégico e diretor da Fundação CIPI em Bruxelas, Paolo Raffone, disse que “um compromisso mais profundo” na Ásia Central é “crucial tanto para a França como para a Europa em geral”. Ele argumentou que “o fortalecimento dos laços com a Ásia Central poderia garantir a segurança energética para a Europa, fornecer metais raros e urânio (70% da produção de eletricidade da França depende de usinas nucleares) e restaurar o equilíbrio geopolítico na região da Ásia Central”.
Raffone lembrou que atualmente a Europa “depende fortemente da China para elementos metais raros”, acrescentando que tal dependência de uma “cadeia de abastecimento única é arriscada e põe em risco o seu avanço tecnológico [do continente]”. Segundo o analista, “ao aprofundar proativamente os laços com as nações da Ásia Central, a França e a Europa podem diversificar as suas cadeias de abastecimento”.
O diretor da Fundação CIPI afirmou que, apesar dos “visíveis reveses da França na região africana do Sahel (o principal fornecedor de urânio para a França), Macron está tentando desempenhar um papel geopolítico no quadro de contenção da Rússia e da China liderado pelos EUA”. Raffone afirmou que o “envolvimento reforçado da França na Ásia Central pode funcionar como um contrapeso, garantindo que nenhuma potência domine a região”.
Ele ressaltou que a França procura “posicionar as nações da Ásia Central como contribuintes ativos para a conectividade e colaboração globais, em vez de serem apenas espectadores no cenário geopolítico mais amplo”. O analista também argumentou que a visita de Macron “deverá marcar o início de uma nova era nas relações França-Ásia Central”, que Raffoine disse que poderá ver “as recompensas potenciais em termos de segurança energética, estabilidade geopolítica e crescimento económico”.
Entretanto, advertiu, os planos de Macron não podem ser cumpridos “sem acomodar os interesses” da Rússia e da China.
“Chegou a hora de a França e, por extensão, a Europa, liderarem uma cooperação reforçada e moldarem um futuro próspero e equilibrado na Ásia Central, incluindo negociações com a Rússia e a China. Macron tem um forte interesse nacional em fazê-lo. O tempo dirá se ele conseguirá atingir seus objetivos”, concluiu Raffone, repetindo, porém, que a viagem será frustrante se não houver um ‘de acordo’ de Moscou e Pequim.