Em meio a maior nevasca dos Estados Unidos, o homem de gelo Donald Trump volta à Casa Branca ainda mais hostil e cada vez mais disposto a dominar o mundo. Antes mesmo de se sentar na cadeira mais poderosa do planeta, ele já anunciou seus três primeiros passos: anexar o Canadá aos EUA, assumir o controle administrativo da Groenlândia e trocar o nome do Golfo do México para Golfo da América. Nada demais para quem se acha acima do bem, do mal e de todas as forças da terra.
Na sequência, a ideia é, eventualmente por meio de uma intervenção militar, retomar o Canal do Panamá, devolvido ao governo panamenho em 1999, após um longo período de administração conjunta. O Brasil não está fora do alcance do magnata, agora aliado número um de Elon Musk, ambos sob a assessoria informal do oportunista Mark Zuckerberg, co-fundador, diretor, acionista e controlador do Facebook. Seria fácil não fosse o atual estágio de democracia vigente na ex-pátria dos “patriotas”.
A tomada do Brasil é mais complicada, pois depende da boa vontade de Nicolás Maduro, líder da Venezuela, por onde obrigatoriamente passariam os navios de guerra dos EUA. Como não passarão, é bom lembrar que, enquanto o camarada Nicolás não esverdear e cair de maduro, estaremos livres do expansionismo yankee. Ufa! Para sorte do povo brasileiro, as ambições territoriais de Trump em relação à terra descoberta por Cabral também esbarram no potente e poderoso esquadrão armado que atua livremente em boa parte do território do Rio de Janeiro.
Refiro-me à milícia fluminense. Para adentrar em solo brasileiro, Donald Trump e sua trupe ideologicamente mais raivosa do que os nossos patrícios fanáticos pelo mito precisam negociar com as organizadas do Flamengo, Vasco, Corinthians, Palmeiras, Cruzeiro, São Paulo e até do Íbis de Pernambuco. Como se vê, a tarefa não é das mais fáceis. Só para lembrar, Elon Musk tentou e não conseguiu comprar alguns brazucas com pulseiras temáticas, relógios de pulso, cigarros e whisky do Paraguai. Felizmente, mesmo chateados com a recuperação nacional, nossos ideólogos de hoje pensam mais alto, algo como R$ 4,2 bilhões de emendas parlamentares de comissão.
Muito para quem tem pouco para falar, a ambição territorial do novo velho presidente norte-americano, o 47º da história estadunidense não é nada perto de uma série de outras promessas polêmicas. Duas delas são um escárnio à sensatez. Raivoso, vingativo, melodramático, de história duvidosa e cada vez mais leal ao instinto animalesco que marca sua trajetória política, Trump deve comandar pessoalmente a deportação em massa de imigrantes ilegais, entre eles milhares de brasileiros.
Além disso, ele deve chamar às falas os “parceiros” do Judiciário, aos quais “recomendará” a anistia aos companheiros que invadiram e depredaram o Capitólio logo após ter perdido a eleição de 2020. Seria o mesmo enredo do Brasil se a história eleitoral de 2022 tivesse sido outra. O caos está próximo caso Donald Trump confirme pelo menos metade do que prometeu a seus seguidores.
Resta aos cidadãos dos Estados Unidos e do mundo se apegar ao conforto de alguns pensamentos filosóficos e espirituais. Um dos mais didáticos e profundos não tem autoria: “Quando a moral sai de cena, a lei da sobrevivência impera”. Da lavra de Chico Xavier, outros dois soam como presságios: “Planejar a infelicidade dos outros é causar com as próprias mãos um abismo para si mesmo”.
………………
*Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras