Nada pior do que receber puxão de orelha da própria cria. Pois é, Augusto, meu primogênito, anda às turras comigo desde que perdi meus óculos de grau. Na verdade, a bronca nem foi por conta da perda, mas de onde encontrei o maldito apetrecho que sou obrigada a usar para continuar meu hábito favorito desde os remotos tempos de menina: a leitura.
— Mãe, veja se a senhora deixou os óculos na bolsa.
— Que bolsa?
— Sei lá! Já procurou?
— Procurei por todos os cantos.
— Será que não foi o gato?
— Gata!
— É. Será que não foi a gata?
— Nina!
— Tá! Será que não foi a Nina?
— E por que ela pegaria os meus óculos?
— Sei lá!
— Hum!
Cansada dessa conversa, deixei o Augusto falando com as moscas e fui dar uma olhada por detrás do sofá. Vá que a Nina, sem querer, é óbvio, confundiu meus óculos com algum ratinho ou passarinho? Arrastei o móvel e nada de encontrar o meu companheiro de leitura. Augusto passou por mim e deu uma balançada de cabeça com aquele sorriso cínico que ele bem sabe que me irrita.
— O que foi agora?
— Nada, mãe.
— Hum!
— Não quer que eu compre óculos novos pra senhora?
— Não! Deixa que eu vou!
Passei uma escova nos cabelos e fui calçar os sapatos. Tenho a mania de guardá-los dentro das caixas, pois, assim, evita mofo. Mal abri a caixa, lá estavam meus óculos olhando para mim. Augusto, que não sai do meu pé, percebeu.
— Pô, mãe! Dentro da caixa dos sapatos?
— Hum!
— A senhora anda muita esquecida.
— Não enche, tá?
Irritada que fiquei com a inconveniência do meu rebento, decidi almoçar fora. Calcei meus sapatos, passei um batom e… Cadê as chaves do carro? Melhor dar um pulo na padaria da esquina e comer um misto-quente com suco de laranja.
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