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Café no Alvorada

Maior pesadelo de Bebianno acabou. Laranja é Haddad

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Autor/Imagem:
Ka Ferriche

Amanheceu ensolarada a quinta-feira, 14, em Brasília. Como em milhares de residências, o café da manhã está servido. Na cabeceira da mesa, o patriarca, servido de mingau, interrompe:

– Mi, querida, onde está o Carlinhos?

– Já está vindo, meu bem. Escovando os dentes.

– Está atrasado – adverte o pai – esse vive me dando problemas…

– Calma, amor, você ainda não está bem… – contemporiza a esposa, quando Carlinhos se senta à mesa.

– Esse uniforme está amassado, o sapato está sujo! – repreende o pai.

– Pô, brother… – retruca o filho.

– Pô, o quê, brô o quê? Sou seu pai, moleque, acha que está falando com quem?

– Carai, véi, tudo é crise nessa casa…

– Estou falando com você, larga essa droga de celular!

– Calma, amor, você ainda não está bem… – tenta contornar a esposa.

– Você não vai falar daquele marrento, vai? – retruca o filho.

– Aquele marrento é professor e a diretoria inteira reclamou que você não respeita ninguém. Tem ideia da confusão que conseguiu fazer? Você cai numa pegadinha da imprensa, a mesma que tentou me destruir, e sabe o que vai acontecer?

– Ah, para… – Carlinhos engole um pote de Danoninho.

– Ninguém mais vai confiar em você. Nem os decanos. Você acha que é malandro carioca, mais esperto que os filhos do Lula, é isso?

– O cara…

– O cara? Isso é maneira de tratar um ministro? Sabe quem eu sou, o que represento, sob que condições estou no cargo? Esse seu celular, que me ajudou na campanha, sabe quantas redes de compartilhamentos participaram dessa campanha? Milhares, espontaneamente. Você jamais saberá o alcance de grupos de pessoas que formaram essa corrente. Não pense que você fez isso, não foi. Foi o Brasil que produziu isso, com o aval de todos os generais civis e militares que estão hoje ao meu lado.

– Xiii… cê não está bem, generais civis… – Carlinhos interrompe a refeição e ameaça deixar a mesa.

– Senta aí! – o pai dá esmurra a mesa. Generais civis, pra mim, são aqueles formadores de opinião que têm milhares de seguidores independentes que não foram orientados por você, não se iluda. Você foi importante, mas eles também foram muito importantes. Fundamentais. O “cara” a quem você se refere foi quem me tirou da roubada do Patriotas, um partido que poderia detonar minha candidatura. Foi o cara que resolveu e você implicou com ele. Que saco! Hoje não estamos em campanha, acabou! Agora tive que mandar o Sérgio investigar uma droga sem importância e serei obrigado a investigar o maior laranja de todos que é o Haddad. Vão dizer que é perseguição.

– Mas o cara, que você sempre defendeu, não me deixou prospectar uma joint venture com o Bill Gates, não me deixou nomear um especialista que poderia criar a Zapbras…

– Tá maluco? Você está criando é cizânia, faltando com respeito a todos os generais, civis e militares. Não serei seu paizão nessa questão. Nesse caso, serei seu presidente, entendeu? Quem tem que resolver isso é o Bivar, ele é quem entende de Pernambuco, de Lourdes Paixão. O Bebianno viabilizou nossa vitória.

– Quer mais um pouco de papinha, amor? – a esposa interrompe carinhosamente, tentando apaziguar o clima.

– Não, querida, obrigado.

E agora de dedo em riste: Carlinhos, preste atenção: o PT torrou R$ 39 milhões com o laranja deles, o Haddad, porque o candidato petista era o Lula e essa manobra custou milhões. Um blefe que será responsabilizado. E ainda disse que ficou devendo. Quando você cai na pegadinha de um jornal fascista que sempre me ferrou, só porque você não gosta do cara, está me ferrando também. O “cara” que você ataca foi elogiado pelo TSE pela prestação de contas e gastou menos de 10% do que o PT gastou e estamos aqui agora, tomando o café da manhã no Palácio da Alvorada. Tem mais: de toda a arrecadação, sobrou ainda R$ 1,5 milhão. Você está contribuindo para macular uma história de sucesso. Feita pelo cara. Ninguém vai apoiar um ataque sórdido desse, infantil e injusto.

– Já sei, você quer me ver catando bosta de elefante para dar o exemplo…

– Não seja ingênuo. O Governo Federal não é a Baixada Fluminense, não é a feijoada do Zeca Pagodinho. Ou você entende isso, ou vai para o castigo.

– Mas o cara…

– O cara, não! Ministro Bebianno! Que além de contribuir para que você tenha a importância que tem hoje por ser filho do presidente, independente de ser vereador no Rio de Janeiro, foi decisivo para que este café da manhã esteja servido aqui. Respeite isso. Desligue essa porcaria de celular, arrume esse uniforme e engraxe esses sapatos. Não quero receber nenhuma reclamação sobre você a partir de agora! Entendeu, soldado?

Carlinhos, perfilado, bateu continência, resignado – e emburrado – deu meia volta e saiu marcando o pé direito.

Carlinhos engoliu andando o último naco de um croissant que nunca tinha provado, muito comum no Alvorada, e saiu compartilhando: “Meu pai me odeia! me pai me odeia! Meu pai me odeia!”

Instantes depois…

– Amor! Amor! – a esposa dá seguidos tapinhas carinhosos no rosto do marido – Acorda, amor! O café da manhã está servido, seu mingauzinho está pronto… venha.

O pai de Carlinhos acorda de sobressalto, arranca o hobby de chambre, e grita:

– CARLIIIIINHOS!!!

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