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Adeus a um mito

Maior que a doença, Roriz escolheu o período das eleições para morrer

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Autor/Imagem:
Leonardo Mota Neto

Conheci de perto Joaquim Roriz quando fazíamos hemodiálise na clinica CBN&D em Brasília. De perto, pois como repórter já havia travado os bons combates pela noticia com a assessoria do governador e sua secretária de então, a Shana Ferreira.

Durante o tratamento, o ex-governados comportava-se sempre com mutismo bem goiano, desconfiado, mas sorriso pronto e estoicismo para suportar as punções (que, pela excelência da equipe de Luisa Gibson, enfermeiras e técnicas, passavam suaves…).

Os médicos de plantão o distinguiam com o mesmo respeito e atenção dada aos demais pacientes. O doutor Istênio Pascoal instituiu a democracia médica…

O médico nefrologista pessoal de Roriz, Adolfo Simon, calmíssima personalidade que ao ver chegar aquele monstro sagrado amado pelo povo para uma consulta inicial com o bornal repleto de remédios que os profissionais de uma clinica de Nova York lhe haviam receitado, foi logo dizendo: “Governador, para começar, vou tirar metade desses medicamentos …”

Claro, disse-lhe com a autoridade dos médicos da CBN&D que haviam introduzido na terapêutica nefrológica mundial a diálise diária, para espanto dos norte-americanos. E deu certo, asseguram hoje todos os congressos médicos mundiais.

Roriz nunca quis privilégios na clínica. Só queria o cantinho dele na cadeira com o celular na mão para falar com o capataz das fazendas dele. De pouca conversa, sua afabilidade, porém, denunciava a inconfundível timidez, um detalhe que poucos conheciam e os seus adversários duvidariam que tal existisse.

O que para mim ficou marcado na lembrança das sessões de hemodiálise em companha dele, foi que Dona Weslian nunca deixou de conduzir o marido e aguardar as duas horas na ante sala. Quando não podia ir (raramente) uma das filhas a substituía. Não gastava o tempo lendo revistas, vendo a TV ou conversando com parentes de pacientes. Ia à igreja mais perto da clinica para a missa.

Roriz sempre foi maior que a doença. Por isso escolheu para morrer durante uma campanha eleitoral. Nunca deixou o centro dos acontecimentos Nas suas veias corre um mito.

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