Como se pudesse alterar o resultado da eleição de 2022 e reverter a inelegibilidade imposta por Xandão, a dupla Mala & Mito vem percorrendo o país em busca do nada. Quando muito, de coisa alguma. Muito mais cômico do que trágico ou triste, o 17º. ou 22º. remake do teatrinho a céu aberto protagonizado pelo ex-presidente dos “patriotas” faz tempo não dá mais ibope. Os que insistem em assistir a vitimização de um cristo que tenta, tenta, mas sabe que não ressuscitará, já entenderam que a peça lembra o enredo do cidadão traído que tenta suicídio pulando do vaso sanitário. Cansado do peso do chifre, o sujeito salta sabendo que não vai morrer. Entretanto, chama atenção dos demais enganados e cria uma situação que ele supõe suficiente para torná-lo popular, apesar dos galhos. Algo como uma facada simbolicamente mal explicada.
Sinceramente, esse tipo de popularidade desagrada até os meninos do cursinho de teatro infantil de Maria Clara Machado. Além da mesmice pregada pelo cabo eleitoral Silas Malafaia, produtor da dupla e homem do dízimo sob pressão, e patrocinada pelo astronauta Elon Musk, o que há de novo no folhetim golpista do cidadão que vive do cheirinho da eleição passada? Perdeu porque não ganhou e nem empatou, mas acha que só perdeu porque deixou de ganhar de um adversário que, apesar das remissões ao passado, é infinitamente melhor do que ele. O que mais chama atenção é que ele jura para seus beatos que vai ganhar porque não perdeu e quase empatou um jogo que achava ganho. Mais entediante é Mala & Mito defendendo a democracia.
Justamente eles que só não fecharam o Supremo porque o cabo e o sargento escolhidos pediram baixa. Tudo bem que o gramado sintético das rodovias que miram o Norte e o Nordeste tenha atrapalhado as firulas da patriotada, cujo fanatismo arcaico nem mesmo Freud tem mais vontade de explicar. O fato é que o circo dos horrores fracassou. E não havia outro caminho para quem passou quatro anos com a caneta bic dourada entre os dedos, botou o bloco fantasiado de verde oliva na rua, dançou a Ula Ula em cima de um jet ski, comeu frango com farofa seca sobre um carro de som da Igreja Universal, bebeu cerveja Itaipava quente e não conseguiu sequer empatar com um candidato que adora alcunhar de ex-presidiário.
O próximo deve ser o próprio. É claro que não era um ex-presidiário qualquer. Por isso, acabou com a brocha na mão. Vale registrar que, mesmo no caso de um hipotético empate, ele não levaria, pois está na Lei das Eleições que, empatando, vence o mais velho. Portanto, perderia e não teria ganho de modo algum. A perseguição da qual ele tanto se utiliza nos cultos domingueiros só pode ser obra do Malafaia e do seu perfil de roteirista de filme de sexo implícito. Afinal, normalmente o que sai da boca é o que entrou, não chegou a ser digerido, não sai por onde deveria e acaba sendo regurgitado na forma espetaculosa de besteiras sem nexo.
O retrato sem moldura e sem acabamento da comédia bufa é que o circo sem lona instalado como casas da benção em praças de desocupados perdeu o objeto. A repetição dos pretextos de que o adversário é ladrão e que o Brasil está próximo de uma ditadura não enganam mais ninguém. Nem os figurantes. Pelo contrário. Hoje, o mantra serve para afastar os que já se cansaram dos espetáculos da desnorteada família circense de periferia. Recolham-se à insignificância e torçam para 2030 chegar logo. Antes disso, o esperneio só servirá para aumentar o desejo incontido de mijar na cabeça dos torcedores da geral, também chamados jocosamente de “patriotas”.
A insistência do moço tem encabulado inclusive os que são obrigados a produzir diariamente um texto sobre política. Ou se fala de quem ele não gosta, ou se escreve a respeito dele sem gostar. É o que a maioria tem feito. Para os que se recusam a repetir frases libertárias de quem sempre defendeu a ditadura, soa mal ouvir que os bolsonaristas são maioria no país. São? E por que não reelegeram o rei da cocada sem coco? Penso em criar um pseudônimo para lembrar àqueles que torcem por quem perdeu, não vai mais ganhar e nem empatar o patético argumento do vegano que se recusou a comer língua de boi – ou de vaca – porque saiu da boca de um animal. Deram-lhe um ovo e ele traçou feliz da vida. É ou não é falta do que fazer.
*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978