Amigo imaginário
Malu brincava com o pai, a mãe lia e de repente…
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emMaria Luiza corria pelo gramado da praça de uma aprazível cidade do Entorno do Distrito Federal, enquanto os pais sorriam, surpresos que estavam com o crescimento da filha.
— Gente, como tá enorme!
— É verdade. Ontem mesmo era tão pequenina.
O pai de última viagem, não tardou, foi brincar com a menina, cuja energia parecia ser infinita. Pelo menos era assim que o corpo envelhecido do homem imaginava. Seja como for, tratou de aprumar a coluna e deu aquela esticada, o que fez as juntas estalarem como ranger de porta de filme de terror.
Enquanto o marido tentava acompanhar o ritmo frenético da cria, a mulher aproveitou para colocar em dia a leitura. Apaixonada que era por Drummond e Pessoa, há quase seis meses se deliciava com as poesias dos livros “O diagnóstico do espelho“, de Sarah Munck, e “A verdade nos seres“, de Daniel Marchi.
De tão entretida com aqueles versos, não percebeu quando um homem se sentou em um dos bancos da praça. Se tivesse notado, talvez não lhe daria importância, mesmo porque o sujeito parecia interessado em algo ao seu lado. Não que houvesse algo ali, pelo menos não perceptível à primeira vista.
Enquanto pensava sobre a última estrofe lida, a mulher foi interrompida pela voz do estranho.
— Desculpe.
— O quê?
— Desculpe.
— Não entendi.
— Quero me desculpar com a senhora.
— Desculpar? Como assim?
— Desculpa pelo zum-zum-zum.
— Zum-zum-zum? Que zum-zum-zum?
— O zum-zum-zum de agora há pouco. Mas pode ficar tranquila, que a pessoa que estava aqui conversando comigo já foi embora.
Instintivamente, ela olhou para todos os lados, mas não havia ninguém por ali, a não ser o marido e a filha, que continuavam brincando. Em seguida, o gajo se levantou e foi embora gesticulando, como se estivesse reencontrado o amigo imaginário.
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