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A favorita

Manicó, Dogue de Bordeaux, foi-se com cascavel

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Irene Araújo

Gosto de acreditar que os cães nos protegem enquanto caminhamos pelas trevas. Se isso é verdade ou não, nem importa, mesmo porque eles são muito mais do que nossos protetores. Por isso, vou falar hoje de uma das mais gentis criaturas que tive o prazer de conviver por pouco mais de quatro anos. Seu nome? Bem, isso pode parecer controverso, pois a maioria das pessoas ainda hoje se refere a ela como Lilo. Já eu, que era muito mais íntimo, a chamava de Manicó.

Tudo começou bem antes do nascimento da Manicó, quando decidimos ter outro cão após vários anos da partida da Cuca, a nossa Bull Terrier. E lá estávamos tentando escolher uma raça, quando, então, fui atender um cliente. Por acaso, ele convivia com um casal da raça Dogue de Bordeaux, que eu já conhecia de longa data por conta do filme “Uma dupla quase perfeita”, com o Tom Hanks.

Mal voltei para casa, falei sobre essa raça enorme. É mesmo gigantesca! Todos concordaram que aquela era uma ótima escolha. Então, a partir daí, fomos pesquisar onde poderíamos comprar uma cadelinha. Acabei encontrando um canil em São Paulo. Telefonei e o proprietário me disse que pretendia acasalar um lindo macho vindo da Polônia com uma das suas cadelas. Depois de algum tempo, tudo ficou acertado. Agora era esperar para ver se o cruzamento iria vingar e, por conseguinte, a nossa cachorra nasceria.

Já na véspera do Natal de 2009, estava com as minhas filhas dentro do carro. Havíamos acabado de estacionar, quando o dono do canil me ligou e disse que a ninhada havia nascido. Oito filhotes, sendo três fêmeas. Uma era a nossa. Passamos o Natal falando mais da nossa futura amiga e nos esquecemos da festa.

Nos primeiros meses de 2010, eis que, finalmente, a Lilo chegou para nós. Foi uma alegria enorme! Aliás, Lilo foi o nome escolhido por minha filha mais nova. No entanto, com o passar dos meses, não sei por qual carga d’água, passei a chamá-la de Manicó. Seja como for, ela havia me adotado como favorito e, por isso, passou a atender muito bem quando a chamava.

A Manicó, quanto mais crescia, mais linda ficava. Tanto é que a minha filha mais velha disse para colocá-la em exposições. Apesar de tímida, a nossa Dogue de Bordeaux até que se saiu bem, pois sagrou-se campeã nacional depois de algum tempo. Entretanto, essa vida de passarelas não era algo que nos atraía, muito menos a Manicó parecia gostar. Então, esse capítulo foi virado sem o menor arrependimento.

Dorminhoca ao extremo, a Manicó, nem por isso, deixava de cumprir as suas funções de protetora. Ao menor ruído, lá ia aquele ser enorme dar uma olhada no portão e, em seguida, voltava para o conforto de sua almofada. O ronco ecoava por toda a casa.

Outra curiosidade sobre a Manicó é que ela babava tanto, que, não raro, eu precisava trocar de roupa para ir trabalhar. Minhas filhas e até a minha esposa, a Dona Irene, ficavam esperando que eu desse uma bronca na Manicó. Que nada! Eu achava graça daquilo tudo, enquanto as três resmungavam pelos cantos dizendo que eu protegia muito a minha preferida.

Certo dia, no entanto, a Manicó foi picada por uma cascavel na fazenda que tivemos por alguns anos. Conseguimos aplicar uma dose de soro antiofídico que tínhamos, mas era insuficiente. Precisávamos de mais três, quatro ou mais doses. Coloquei a minha amiga no banco de trás da camionete e pegamos a estrada. Ela não resistiu e, ainda no caminho, nos deixou. Isso aconteceu no dia 05/09/2014.

Não sei descrever o vazio que senti naquele momento. Ainda hoje é difícil olhar para trás e perceber que não fui capaz de salvar a Manicó naquele dia, mesmo eu sendo médico veterinário. Ela foi um dos seres mais gentis que tive o privilégio de conhecer. E como era linda!!!

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