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Manipulada, mídia entra em cena para inviabilizar Unasul

Brasília (DF) 30/05/2023 O presidente Lula, durante Fotografia oficial dos Presidentes dos países da América do Sul. No palácio do Itamaraty. Foto Rafa Neddermeyer/ Agência Brasil

A questão da Venezuela explodiu na reunião dos presidentes da América do Sul convidados pelo presidente Lula para promover a ressurreição da Unasul e seu fortalecimento mediante estratégia desenvolvimentista tocada por bancos públicos, formação de poupança continental e desdolarização econômica.

A dissenção de Chile e Uruguai, discordantes de que vigora democracia na Venezuela, o que, naturalmente, dificultaria unidade latino-americana intrínseca ao projeto lulista, exigirá novos encontros para discutir a natureza profunda das controvérsias, algo que interessa aos que se beneficiam com a divisão política regional, especialmente, os Estados Unidos.

A pergunta central, no entanto, a ser feita é a seguinte: a emigração venezuelana que escandalizou toda a América Latina nos últimos anos foi fruto da “ditadura” em si, patrocinada pelo governo Maduro, como narra a mídia conservadora pró-Washington, ou das 900 sanções comerciais impostas pelos Estados Unidos à Venezuela por ser politicamente comandada por governo desalinhado com a Casa Branca, pregador do socialismo bolivariano do século 21 criado por Hugo Chavez, na primeira década do século?

Basta observar um dado: por causa das sanções, os ingressos econômico-financeiros da exploração do petróleo, na Venezuela, segundo o presidente Maduro, caíram de 56 bilhões de dólares para 700 milhões de dólares! O impacto dessa redução brutal na vida nacional desorganizou completamente a economia, cujas consequências foram, essencialmente, destruição das famílias.

Destruíram os salários, implodiram o custo de vida, a inflação saiu de controle, o poder de compra popular desapareceu, a moeda derreteu e o desemprego se ampliou, incontrolavelmente; tratou-se de guerra econômica sem quartel.

Apesar disso, o chavismo bolivariano socialista resistiu, triunfando, sistemática e democraticamente, nas urnas, nos últimos 24 anos, durante os quais foram realizadas 29 eleições, das quais ele venceu 27, sofrendo, apenas, duas derrotas. A força ideológica do chavismo, nesse período, consolidou-se graças à opção política nacionalista em defesa da estatização do petróleo, maior riqueza nacional, mediante aliança cívico-militar.

Tal estratégia de defesa nacional fragilizou a oposição burguesa conservadora venezuelana a tal ponto que, desde a subida chavista ao poder, os oposicionistas se negam a disputar, porque, diante de pesquisas que lhes são desfavoráveis, preferem fugir da disputa eleitoral; seriam candidatos certos à derrota sob discurso neoliberal aliado a Washington, que não dá voto.

Antevendo a derrota, inventam desculpas que não colam junto ao povo; as 900 sanções econômicas impostas imperialmente pelos Estados Unidos, acompanhadas de furiosas tensões diplomáticas guerreiras, não foram suficientes para virar o jogo contra bolivarianismo chavista-madurista, incapaz, no entanto, de conter a fuga migratória da miséria, assolada pela hiperinflação gerada pela dolarização econômica.

A fúria dos emigrantes cresceu dada insuficiência de fundos públicos necessários para promover desenvolvimento sustentável; países vizinhos, Brasil, Chile, Colômbia, Argentina, Paraguai entre outros, não tiveram estrutura para conter a avalanche migratória.

Ocorreu, na América Latina, em razão das 900 sanções comerciais americanas, o mesmo que aconteceu com a Europa, muito mais estruturada, porém, incapaz, também, de barrar os imigrantes africanos expulsos da África pelo imperialismo americano e europeu, na sanha de colonizar disseminando guerras civis de forma indiscriminada, para dividir populações.

Os meios de comunicação pró-Washington, na América do Sul, cuidaram, até agora, de dividir a população continental, esforçando-se para dissociar a causa – a guerra econômica – do seu efeito – a onda migratória – venezuelana. Economicamente, esvaziado de suas receitas tributárias com o petróleo, a saída de Maduro, nesse período, tem se dado no campo geopolítico.

O presidente venezuelano, empurrado para o precipício, cuidou de aproximar-se de dois poderosos aliados: China e Rússia; com os chineses, fez acordos comerciais, e com os russos, acordo militar; pôde, então, resistir com sua defesa renovada e canais comerciais novos, capazes de promover ingressos de divisas; desse modo, salvou-se dos desastres cambiais, de fora para dentro, patrocinado por Washington, responsáveis por deterioração nos termos de trocas, responsáveis por impedir estabilidade monetária e desenvolvimento econômico sustentável.

Maduro chegou ao Brasil não para pedir socorro de emergência, apesar de ter a relação comercial entre os dois países recuado de 6 bilhões de dólares para 2 bilhões de dólares; a China preencheu esse vácuo, paulatinamente, enquanto o governo bolivariano conseguiu afastar o perigo de invasão americana, graças aos armamentos russos.
A visita de Maduro, que pagará sua dívida ao BNDES com petróleo, representa, ao contrário, alerta ao gigante Brasil no sentido de que, se ele não correr para reparar o prejuízo de manter congelada a relação bilateral, perderá, definitivamente, o mercado venezuelano para a China; algo semelhante, ocorrerá, também, no plano regional, com destaque para a Argentina, cada vez mais propensa à aproximação com os chineses.

Lula tem que se apressar para se transformar em agente catalisador de aliados latino-americanos a se filiarem aos BRICs, na tarefa da desdolarização latino-americana, dominada por bancos privados, a fim de substitui-los por bancos públicos, como alternativa à redução das taxas de juros, favoráveis aos investimentos em infraestrutura continental.

Cega, ideologicamente, a classe empresarial tupiniquim, completamente dominada pela especulação financeira, que liga seu destino à furiosa financeirização econômica global anti-produtiva, faz o jogo equivocado; em vez de lutar contra os especuladores, compactua-se com a plutocracia financeira internacional que comanda o Banco Central Independente cujos interesses estão dissociados do interesse da economia real.

A título de ilustração: enquanto Lula defendia, na cúpula com seus vizinhos, a integração latino-americana, mediante desdolarização econômica e fortalecimento dos bancos públicos, na formação de uma poupança dos países da região, para tocar a infraestrutura continental, a Globonews entrevistava Campos Neto, sabotador do programa econômico lulista, aplaudido pelo poder midiático antinacional.

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