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‘Mar de camisinha’ ao lado de motel irrita cariocas do Catete

Há dois anos, durante o Carnaval, o aposentado Antônio Carlos Barbosa da Silva, 67, observava a movimentação dos blocos de rua na Glória, no Rio, quando foi surpreendido por um “mar de camisinhas” que se formava em frente à porta de seu prédio, situado na rua do Catete, na zona sul da cidade.

Síndico do condomínio, que fica ao lado do motel Love Time, o idoso se dirigiu ao local e testemunhou uma cena que, segundo ele, foi “uma das coisas mais grotescas que já viu”. “Os preservativos pulavam do bueiro. Eles borbulhavam e escorriam pela calçada”, afirmou em entrevista ao Uol.

“Havia um bloco de Carnaval com muitos turistas se concentrando na rua. Eles olhavam para as camisinhas com uma cara de nojo”, disse ele. “Foi uma coisa realmente vergonhosa para todos os moradores.”

Barbosa relata que esse tem sido um problema recorrente nos últimos seis anos, período em que diz ter solicitado serviços de manutenção da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) mais de 20 vezes.

“Em média, a gente precisa ligar e chamar os técnicos de quatro a cinco vezes ao ano”, disse. “Mas a culpa não é da Cedae. A responsabilidade é do motel, que está causando um transtorno muito grande não só para nós [moradores]. Isso é uma vergonha para o bairro. Por isso que, desde 2013, eu coloco a minha plaquinha: ‘Vergonha do bairro’. Mas não adianta, pois eles jogam a culpa na Cedae.”

O gerente do motel Love Time, Sérgio Fernando, afirmou ao UOL ter providenciado, há alguns anos, a instalação de uma caixa coletora para impedir que o material descartado pelos clientes entupisse a rede de esgoto. Segundo ele, o problema foi resolvido.

“É possível que ainda tenha algum vazamento esporádico, mas não com preservativos saindo pelo bueiro. Nós fazemos a limpeza diária da caixa coletora”, declarou Fernando, que não soube especificar há quanto tempo a caixa coletiva foi instalada.

Confronto de versões
Quando o bueiro transborda, além de fixar a placa com a mensagem “Vergonha do bairro” na grade que protege a entrada do condomínio, o síndico solicita o serviço da Cedae, que vai ao local e desentope a rede coletora. “Eles vêm e fica tudo limpinho, como está agora. O problema é que se trata de uma medida paliativa. Daqui a dois ou três meses, vocês podem vir aqui que estará tudo sujo de novo. Quando está limpo, eu retiro a placa, mas ela não consegue ficar muito tempo guardada. O motel não deixa”, declarou. A Cedae foi procurada pela reportagem, mas não se pronunciou até o fechamento deste texto.

Outros moradores corroboram a versão do síndico. “Você acaba trazendo esse tipo de resíduo para dentro de casa, pois é obrigado a pisar nas camisinhas. É revoltante você chegar em casa e encontrar camisinhas na sua porta”, afirmou a advogada Carla Vitorino Gomes, 46. Para a engenheira florestal Denise Alves, 50, que diz ter especialização em gestão ambiental, “esse é um problema de saúde pública”.

“Moro aqui há 13 anos e percebo que isso é uma sangria que não cura. A Cedae sempre vem e limpa, mas é necessário que um perito judicial faça uma análise para apontar responsabilidades”, disse. “A Glória é um bairro com péssima drenagem, pois o mar vinha até aqui. Por ser uma área aterrada, as ruas alagam com muita facilidade. Com essas camisinhas boiando por aí, há um risco enorme. Alguém pode se ferir e acabar pisando nesse material patogênico.”

Barbosa relatou uma de suas tentativas frustradas de chamar atenção dos responsáveis pelo motel. “Eu peguei uma vassoura e comecei a pescar algumas camisinhas. Depois disso, joguei em cima do carro de um dos donos do motel, que sempre para aqui perto”, afirmou. “Eu pensei que ele chamaria a polícia, que iríamos à delegacia. Era tudo que eu queria. Mas a reação dele foi mandar um funcionário limpar.”

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