Enquanto as ladeiras do Centro Histórico de Olinda fervem com o desfile dos blocos de rua, na Casa da Rabeca, na Cidade Tabajara, um encontro de maracatus celebra a tradição dessa brincadeira da Zona da Mata pernambucana. Evolução que se expandiu por outras regiões do Nordeste e é, na verdade, uma fusão de elementos do pastoril, com cavalo marinho, bumba meu boi, reisado e caboclinho.
Nesta segunda-feira (16) de carnaval, os maracatus rurais, também chamados maracatus de baque solto, desfilam suas alegorias. Ao som de batuques, caboclos de lança e porta estandartes dançam compondo uma cena típica do carnaval pernambucano.
Com indumentárias de cores fortes e sinos instalados nas fantasias, os caboclos de lança impressionam quem assiste as apresentações. Como a estudante Gabriela Cruz que pela primeira vez acompanhou um maracatu rural de perto. “É muito forte a sensação que eles passam, as cores, os sons, é muito bonito de se ver. O bom é que a gente pode conhecer um pouco mais da cultura do estado”, disse.
O encontro, que chega à sua 25ª edição, foi criado por um dos mais conhecidos mestres de maracatu – Manoel Salustiano (1945-2008), o mestre Salu – como forma de reunir os brincantes e também preservar essa manifestação ligada à cultura dos trabalhadores rurais dos engenhos de cana-de-açúcar no estado.
“Este encontro foi uma ideia do mestre Salu, que sentiu a necessidade de unir o povo do baque solto, que estava em extinção na época. Em 1989, ele reuniu nove maracatus, criou a associação e, no ano seguinte, surgiu o encontro”, explica o presidente da Associação de Maracatus de Baque Solto de Pernambuco e filho do mestre Salu, Manoel Salustiano Filho.
Cerca de 30 grupos de maracatu e 15 blocos de caboclinhos participam do encontro em Olinda, durante todo o dia, e mais 60 grupos de maracatus e caboclinhos se apresentam no município de Aliança, na Zona da Mata pernambucana.
Desde 2014 o maracatu de baque solto é considerado Patrimônio Imaterial Brasileiro. Reconhecimento que os brincantes devolvem mostrando sua devoção. “Saio há nove anos no maracatu, para mim hoje é a minha vida, sem maracatu pode acabar todas as festas, o carnaval, o São João, pode acabar tudo”, disse o caboclo de lança Luiz Nunes, integrante do Maracatu Cambindinha, de Araçoiaba.
“A gente cantando, o povo batendo palma, é uma emoção para gente”, arrematou o mestre Dino, cantador do Maracatu Leão da Cordilheira, de Araçoiaba, para logo em seguida puxar uma toada de improviso. “No dia 16 de fevereiro é dia do carnaval, do maracatu rural, é isso que eu quero ver. Olha, eu canto com prazer nesta minha brincadeira. Do domingo a terça-feira, faço sempre a caminhada, o maracatu faz parte da cultura brasileira”, improvisou o mestre que há 18 anos faz parte da brincadeira.
Luciano Nascimento, ABr